O pensamento hegemônico, até 1929, cria na chamada
concorrência perfeita. Este modelo fundamentava-s na ideia de que o mercado
satisfizesse algumas condições, tais como: existência de grande número de
ofertantes e demandantes; nenhuma firma é capaz de crescer a ponto de dominar
por inteiro o mercado; homogeneidade de produtos, ou seja, não fazia diferença
comprar de um de outro vendedor; a totalidade dos demandantes e dos ofertantes
possui completa noção dos preços e disponibilidades do mercado local e de
outras praças; qualquer indivíduo, que tenha o mínimo fundamental de visão
empreendedora, pode montar seu negócio e ganhar seu dinheiro, pois não existem
barreiras à livre movimentação dos fatores de produção e dos empresários.
Assim, cada produtor operaria com a mais alta taxa de eficiência, seu produto
teria o mais baixo custo e seu lucro seria o mínimo necessário para manter o
também necessário número mínimo de produtores. Todo este arranjo se encaixaria
ao natural, sem que o Estado precisasse intervir no jogo; como se uma
mão invisível conduzisse os agentes à otimização de suas potencialidades,
gerando a bonança privada e, como desdobramento desta, o tão desejado bem-estar
social.
Com o desenvolvimento das grandes companhias e do consumo de massa, e, principalmente, depois da grave crise econômica de 1929, se
observou que, não apenas a teoria da concorrência perfeita, como
também uma infinidade de outras teorias irmãs desta, não se relacionavam com a
realidade. Logo, tudo foi repensado. “Descobriu-se”, por exemplo, que o mercado
possuía falhas. As falhas de mercado são fenômenos que impedem a
economia de alcançar o ótimo de Pareto, ou seja, o estado
do bem-estar social através do livre mercado. Algo simples, mas
que fora ignorado: uma fábrica que polui o ar afeta a comunidade local, e isto
não se corrige por si só. É preciso que o Estado, através de um regimento
ambiental e da cobrança de taxas, reoriente o comportamento desta fábrica, no sentido
de não prejudicar a comunidade próxima. Assim, com as evidências escancaradas
da realidade, foi-se descobrindo que o governo possuía um papel importante
dentro da teoria econômica. Mas, qual deve ser o grau de intervenção
do Estado no processo econômico?
Para os liberais seria o mínimo; para os marxistas, o
Estado é um comitê a favor da classe dominante; os institucionalistas têm uma
terceira opinião; os keyneisianos uma quarta. De acordo com a
concepção estruturalista de Celso Furtado, “o crescimento econômico
pode ocorrer espontaneamente pela interação das forças do mercado, mas o
desenvolvimento social (bem-estar da coletividade) é fruto de uma ação política
deliberada. Se as forças sociais dominantes são incapazes de promover esta
política, o desenvolvimento se inviabiliza ou assume formas bastardas. Em
outras palavras, a importância do papel do Estado varia com grau de
desenvolvimento do país e com as circunstâncias históricas”.
[Trecho extraído do livro “Conversas com Economistas
Brasileiros I” páginas 64-65 (com adaptações)].
Bom dia, Diego.
ResponderExcluirLi seu post e me recorreu uma passagem de Keynes: "Se a economia ortodoxa (liberal) apresenta falhas estas não devem ser procuradas na superestrutura, elaborada com imensa cautela no que tange à sua coerência lógica, e sim na falta de clareza e generalidade de suas premissas".
Concordo. O próprio Keynes ainda diz: "Dar certa justificativa à liberdade de ação do capitalista individual atraiu-lhe [à teoria liberal] o apoio das forças sociais dominantes agrupadas atrás da autoridade".
ResponderExcluirO Estado tem papel fundamental na fiscalização da economia, pois o mesmo deve buscar sempre o bem estar da coletividade tanto no meio ambiente, como nos preços abusivos que muitos empresários aplicam nos seus produtos. A sociedade deve ficar atenta e não se curvar diante desses abusos.
ResponderExcluirTambém penso assim. O Estado deve intervir na economia promovendo o bem-estar de todos: correção das desigualdades, proteção ao meio-ambiente, salários justos etc. E a sociedade, por sua vez, deve contribuir exercendo a cidadania. Uma coisa funciona através da outra.
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