quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Papel do Estado no Sistema Econômico

O pensamento hegemônico, até 1929, cria na chamada concorrência perfeita. Este modelo fundamentava-s na ideia de que o mercado satisfizesse algumas condições, tais como: existência de grande número de ofertantes e demandantes; nenhuma firma é capaz de crescer a ponto de dominar por inteiro o mercado; homogeneidade de produtos, ou seja, não fazia diferença comprar de um de outro vendedor; a totalidade dos demandantes e dos ofertantes possui completa noção dos preços e disponibilidades do mercado local e de outras praças; qualquer indivíduo, que tenha o mínimo fundamental de visão empreendedora, pode montar seu negócio e ganhar seu dinheiro, pois não existem barreiras à livre movimentação dos fatores de produção e dos empresários. Assim, cada produtor operaria com a mais alta taxa de eficiência, seu produto teria o mais baixo custo e seu lucro seria o mínimo necessário para manter o também necessário número mínimo de produtores. Todo este arranjo se encaixaria ao natural, sem que o Estado precisasse intervir no jogo; como se uma mão invisível conduzisse os agentes à otimização de suas potencialidades, gerando a bonança privada e, como desdobramento desta, o tão desejado bem-estar social.
Com o desenvolvimento das grandes companhias e do consumo de massa, e, principalmente, depois da grave crise econômica de 1929, se observou que, não apenas a teoria da concorrência perfeita, como também uma infinidade de outras teorias irmãs desta, não se relacionavam com a realidade. Logo, tudo foi repensado. “Descobriu-se”, por exemplo, que o mercado possuía falhas. As falhas de mercado são fenômenos que impedem a economia de alcançar o ótimo de Pareto, ou seja, o estado do bem-estar social através do livre mercado. Algo simples, mas que fora ignorado: uma fábrica que polui o ar afeta a comunidade local, e isto não se corrige por si só. É preciso que o Estado, através de um regimento ambiental e da cobrança de taxas, reoriente o comportamento desta fábrica, no sentido de não prejudicar a comunidade próxima. Assim, com as evidências escancaradas da realidade, foi-se descobrindo que o governo possuía um papel importante dentro da teoria econômica. Mas, qual deve ser o grau de intervenção do Estado no processo econômico?
Para os liberais seria o mínimo; para os marxistas, o Estado é um comitê a favor da classe dominante; os institucionalistas têm uma terceira opinião; os keyneisianos uma quarta. De acordo com a concepção estruturalista de Celso Furtado, “o crescimento econômico pode ocorrer espontaneamente pela interação das forças do mercado, mas o desenvolvimento social (bem-estar da coletividade) é fruto de uma ação política deliberada. Se as forças sociais dominantes são incapazes de promover esta política, o desenvolvimento se inviabiliza ou assume formas bastardas. Em outras palavras, a importância do papel do Estado varia com grau de desenvolvimento do país e com as circunstâncias históricas”.

[Trecho extraído do livro “Conversas com Economistas Brasileiros I” páginas 64-65 (com adaptações)].

4 comentários:

  1. Bom dia, Diego.

    Li seu post e me recorreu uma passagem de Keynes: "Se a economia ortodoxa (liberal) apresenta falhas estas não devem ser procuradas na superestrutura, elaborada com imensa cautela no que tange à sua coerência lógica, e sim na falta de clareza e generalidade de suas premissas".

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  2. Concordo. O próprio Keynes ainda diz: "Dar certa justificativa à liberdade de ação do capitalista individual atraiu-lhe [à teoria liberal] o apoio das forças sociais dominantes agrupadas atrás da autoridade".

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  3. O Estado tem papel fundamental na fiscalização da economia, pois o mesmo deve buscar sempre o bem estar da coletividade tanto no meio ambiente, como nos preços abusivos que muitos empresários aplicam nos seus produtos. A sociedade deve ficar atenta e não se curvar diante desses abusos.

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    1. Também penso assim. O Estado deve intervir na economia promovendo o bem-estar de todos: correção das desigualdades, proteção ao meio-ambiente, salários justos etc. E a sociedade, por sua vez, deve contribuir exercendo a cidadania. Uma coisa funciona através da outra.

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