Ontem assisti a uma reportagem sobre a seca em
São Paulo. É assustador: a principal reserva de água do Estado está com 5,2% de
sua capacidade. Em função disto, a população enfrenta racionamentos diários,
não só de água, uma vez que a matriz energética do país é composta
principalmente por hidrelétricas.
Na matéria, apresentada num telejornal, um cano
havia estourado e a água jorrava, feito uma cachoeira, pelas ruas da capital
paulista; uma cidadã, indignada, se enfiou debaixo da corrente e ficou ali,
durante cinco ou seis horas, numa atitude de protesto contra o desperdício
deste mineral tão precioso.
E no mundo inteiro é isto que se vê: uma
consciência nascente, tímida ainda, mas nascente, vital, necessária; uma
consciência retratada nos cartoons de Pawel Kuczynski, na poesia de Nicolas
Behr, nos estudos científicos de Gilberto Montibeller Filho, como em o "O
Mito do Desenvolvimento Sustentável" (obra que eu li durante a graduação)
etc.. Mas esta é uma consciência que surge por vontade própria, através de
esforços individuais - quase não se vê esta consciência no dia-a-dia das
grandes instituições. O cinema hollywoodiano, por exemplo, adora retratar o
apocalipse através dos programas de computador - grandes enchentes, quedas de
meteoros - mas sempre com o intuito de vender; a indústria automobilística tem
criado modelos ecologicamente corretos, mas só para impressionar; os EUA, maior
economia do mundo, negaram-se a ratificar o Protocolo de Kyoto e por aí vai.
Enquanto os principais responsáveis pela
degradação ambiental do planeta não aderirem ao plano, só nos resta rezar
(protestar):
"as árvores dominam o planeta
e o papel de seus talões de
cheques é feito de peles humanas
as árvores dominam o planeta
e os móveis das suas casas
são feitos de ossos humanos
as árvores dominam o planeta
e seus carros são movidos
a gás metano, produto da
decomposição de corpos humanos
as árvores dominam o planeta
e bebem sucos especiais,
mistura de sangue e saliva,
produzidas por células humanas
as árvores dominam o planeta
e fertilizam o solo
com carne humana, moída
as árvores dominam o planeta
e olhos humanos fazem a delícia
dos cafés-da-manhã, alegrando
as feiras do bairro
nas florestas populosas
as árvores dominam o planeta
e criam, em estufas, humanos
infláveis para produzir sombra
as árvores dominam o planeta
e escolhem as modelos mais
gostosas para enfeitar
suas praças
as árvores dominam o planeta
e quando têm frio
queimam grande quantidade
de carne humana, congelada,
estocada permanentemente
no polo norte” (p.6-7).
[BEHR, Nicolas. Iniciação à Dendrolatria. Distrito
Federal: Teixeira, 2° Ed., 2011]