quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sobre a Corrupção Humana

Vivemos numa época de valores duvidosos. O matrimônio, o caráter, a família e o comprometimento social foram substituídos pelo adultério, pela falta de ética, pela solidão e pelo individualismo. Foi o que se viu na confissão de Luíz Carlos Alexandre de Magalhães, um dos envolvidos no esquema que desviou 500 milhões de reais dos cofres da Prefeitura de São Paulo. Ele disse: “A minha compulsão foi o sexo. Tinha dias que eu entrava às quatro da tarde na boate e saia às seis da manhã; voltava pra casa, tomava um banho e ia trabalhar. Em cada madrugada destas eu gastava oito, dez mil; mulheres que saiam em capas de revista, dormiam comigo”.
Em um dos momentos mais marcantes da confissão, o repórter pergunta ao corrupto “Você não se arrepende?”. Com um meio-sorriso, Luíz Carlos de Magalhães, diz “Isso eu não sei responder”. É como se não houvesse sentido em “ser correto”, em “ser decente”, é como se a sociedade e tudo o que ela representa inspirassem ou sugerissem a própria corrupção.
"A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria deles, e os homens de tipo mais vulgar, parecem (não sem um certo fundamento) identificar o bem ou a felicidade com o prazer, e por isso amam a vida dos gozos. Pode-se dizer, com efeito, que existem três tipos principais: a que acabamos de mencionar, a vida política e a contemplativa. A grande maioria dos homens se mostram em tudo iguais a escravos, preferindo uma vida bestial, mas encontram certa justificação para pensar assim no fato de muitas pessoas altamente colocadas partilharem os mesmos gostos” (p.9).

[ARISTÓTELES. Os Pensadores. Vol. II. In: Ética a Nicômaco. Nova Cultural, SP, 1991]

sábado, 23 de novembro de 2013

A Fórmula da Felicidade

Na noite da última sexta-feira, dia 01/11/2013, assisti a uma reportagem sobre os segredos da boa-vida.
O personagem era um brasileiro, economista, que recebera um convite para trabalhar num grande banco estadunidense. Ascendeu na hierarquia da empresa e passou a ganhar “nada mais nada menos” do que $ 80.000,00 mil dólares por mês. Com este ordenado, adquiriu status, fama, patrimônio, entretanto, paradoxalmente, não se sentia feliz. “Faltava alguma coisa” – dizia.
Acabou largando tudo, inclusive o salário. Retornou ao Brasil para trabalhar como professor, ganhando 5% do que ganhava lá fora. A mulher, descontente, pediu separação. Sem o emprego “milionário” e, agora, divorciado, o “malucão” comprou uma casinha no litoral e passou a levar uma vida de solteirão.
Em uma das cenas mais marcantes da reportagem, o “doido” coloca um vinil do “The Archies” e começa a cantar e a dançar ao som de “Sugar, Sugar”. Ouça a música:


O solteirão fincava os pés no chão e, sorrindo, se balançava de um lado pro outro. Definitivamente as coisas haviam se invertido – se antes sobrava dinheiro, agora sobrava felicidade.


A fórmula fora descoberta e residia justamente nisto: na capacidade de refletir sobre a vida, partindo de um sentimento interior, e, num segundo momento, na capacidade de agir, enfrentando a tudo e a todos, em nome do que se supõe mais correto. Aos olhos da sociedade, o ideal seria continuar ganhando os $ 80.000,00 mil mensais, porém, no íntimo, quando as luzes do quarto se apagavam e tudo ficava escuro, havia uma voz que dizia “alguma coisa não está bem”. Me lembrou um pouco a música “Você”, do Raul Seixas: “Finge que é normal estar insatisfeito/ Por que você faz isso, por quê?”.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O que é Justin Bieber?

Há três respostas para esta pergunta.
A primeira esta relacionada ao pop-star. Bieber é hoje o que foram Michael Jackson, Elvis Presley e Madona, e, de acordo com a tradição, deve se comportar excessivamente, fazer coisas proibidas, mudar o penteado, vestir-se com extravagância, dar entrevistas polêmicas, afinal, tudo isto vende. Porém, se por um lado Bieber é uma ótima jogada de marketing, por outro é um péssimo artista, contrastando com seus antecessores. Ele não impressiona cantando, tem uma voz fina e sem volume, como dançarino ele parece uma imitação, é um compositor medíocre, aborda temas batidos, e como instrumentista é frágil. Em resumo: como pop-star Bieber não passa de uma jogada de marketing.
A segunda resposta esta relacionada ao socialite. Neste campo o canadense se destaca. Ele consegue ser notícia com as festinhas que promove, com a maconha que fuma, transando com fãs e prostitutas, freqüentando baladas ou até mesmo quando atira uma bandeira para fora do palco, como aconteceu em seu último show, na Argentina. Tudo o que ele faz ou deixa de fazer vira notícia instantaneamente, como se o mundo aguardasse com ansiedade por qualquer manifestação sua, boa ou ruim. Neste sentido, Bieber é insuperável – ele arrasta multidões de jovens adolescentes histéricas, megaestruturas para eventos gigantescos, a indústria da moda, a indústria do entretenimento, enfim, para os olhos irracionais e famintos da sociedade de consumo, o canadense é a “cereja do bolo”.
A terceira resposta esta relacionada ao serumano. Bieber tem apenas 19 anos de idade e, consigo, carrega o peso de ser o ídolo de uma geração, o peso de ser o alvo da mídia sensacionalista, o peso de não possuir uma educação moral, o peso de não compreender o que se passa ao seu redor.

Justin Bieber não deveria ser uma referência cultural, mas é. Não havia ninguém para ser ídolo, então, sem perder tempo, o mundo dos negócios inventou este personagem. Criou-o à imagem e semelhança de nossa época, isto é, sem conteúdo. “Não há mais o que dizer, a sociedade do espetáculo chegou ao fim. Bieber representa, literalmente, o pós-espetáculo, ou algo muito pior” (p.158).

[SILVA, Juremir Machado da. A Orquídea e o Serial Killer. In: A nova Sandy. Editora: L&PMPocket, Porto Alegre, 2012 (parafraseado)]

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Deus existe?

Filosoficamente esta é uma pergunta que já foi respondida. Desde o Renascimento, quando o homem deixou de acreditar que os governantes eram eleitos pela Divina Providência, esta questão é feita e refeita através dos tempos. A resposta, como se sabe, varia em gênero, número e grau, devido à subjetividade do assunto. Uns dizem que existe, outros dizem que não. Mas isto pouco importa.
Pensar é um ato que, por si só, não resolve nada. A vida das pessoas não irá mudar se Deus deixar de existir, porque, bem ou mal, a Igreja existe, a fé existe, a Bíblia existe, o Alcorão existe, Gandhi existe, os templos budistas existem e continuarão a existir na vida das pessoas, na sociedade e na História, isso é fato! Não há força capaz de reverter isto – nem a bomba nuclear, nem o terrorismo, nem a Ciência – nada é capaz de apagar a “ideia de um ser supremo”. Ou seja, a pergunta “Deus existe?” deixou de fazer parte da filosofia produtiva a muito tempo.
Em termos de Sociologia, porém, este questionamento é válido. Mas a pergunta deve ser feita de outra maneira. Ao invés de “Deus existe?”, deveria ser “Levando-se em consideração um mundo repleto de diferenças, de que modo construir uma sociedade justa, sustentável, produtiva e pacífica?”

Penso que o homem é corruptível. Basta lhe dar poder – então ele vai se achar mais importante do que os outros e vai querer manipular o rumo das coisas a seu favor. Não é assim? Neste sentido, não há filosofia que supere a da Bíblia: “No suor do teu rosto comerás o pão, até que voltes ao solo, pois dele foste tomado. Porque tu és pó e ao pó voltarás” (p.10).

[Bíblia Sagrada. In: Gênesis 3:19] 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Atitudes que Fazem a Diferença

A vida, muitas vezes, parece uma bomba. As pressões – familiares, sociais, amorosas, psicológicas – nos atormentam de tal maneira e com tanta intensidade que se tornou um fenômeno comum a chamada “instabilidade emocional”. Quem nunca ouviu aquele velho chavão “a minha cabeça parece que vai explodir”?
Pois é. Um exemplo. O pai, conservador, quer que a filha se case, mas a sociedade, livre, lhe sugere um relacionamento aberto, no melhor estilo Facebook; o namorado, por sua vez, prefere um relacionamento sério, mas não quer colocar aliança, diz que é besteira, "coisa boba"; a psicologia da garota, por fim, não sabe o que pensar e, não sabendo, tenta agradar a todos, sem, no entanto, agradar ninguém.
Pois é. O mundo esta confuso, vai de mal a pior e a gente assiste a tudo de braços cruzados – pais não se entendem com os filhos, crianças são estrupadas, políticos se envolvem em esquemas de corrupção, o aquecimento global ameaça a vida na Terra – e a gente se pergunta “o que eu posso fazer?”, "como reagir?". Ficamos esperando pelo super-herói que nunca chega e deixamos de cumprir com o nosso papel, caímos na nossa própria armadilha. É como se não fizéssemos parte da História: é melhor fechar os olhos.
Assim, deixando-se influenciar pela mídia e pelos apelos consumistas, isentando-se de suas obrigações e mergulhando no egoísmo e na apatia, o sujeito deixa de exercer atos que, somados, poderiam “aliviar o peso” da existência. São pequenas práticas que fazem a diferença: separar o lixo orgânico do seco; ler um livro; morar perto do emprego, para não precisar de carro; frequentar a câmara de vereadores, para conhecer sobre o futuro do município; protestar etc. São atitudes que dariam uma certa sustentabilidade a um estilo de vida que se apresenta cada vez mais angustiante: “[...] um fenômeno quase coletivo: mais e mais pessoas querendo desistir, largar tudo com vontade imensa de sumir, na ânsia de mudar de rumo, transformar-se, livrando-se das pequenas situações que as torturam, que as amarguram, que as esvaem. Vêm à tona impulsos de romper as amarras da civilidade e partir, célebres, em direção ao incerto, ao sedutor repouso oferecido pela irracionalidade e pela inconsequência. Desejo ‘grandão’ de experimentar o famoso ‘primeiro a gente enlouquece e, depois, vê como é que fica...’ Cansaço imenso de um grande sertão com diminutas veredas?” (p.15).

[CORTELA, Mário Sérgio. Se você parar para pensar. Folha de São Paulo, 24 de maio 2001]