Pra mim, medíocre é o sujeito que passa a sua vida inteira
perseguindo o chamado “sonho americano”. Ou seja: posição social, carro do ano,
viagens ao exterior, família de nome, casa própria, dinheiro no banco, enfim,
uma vida que, aos olhos da sociedade, é perfeita.
Não há nada de errado com isto, você deve estar se
perguntando, e, de fato, não há. É justamente este tipo de orientação que a
gente recebe todo dia – na tevê, em casa, na internet, na rua, nas escolas - o
mundo diz “seja o melhor, seja o número 1”, e o sujeito, hipnotizado, vai lá e
segue à risca o ditado. Faz isso porque é comum, porque é aceito, porque é “correto”,
faz isso pra não ser excluído do tecido social, pra “ser alguém”. O problema é
que a pessoa deixa de perceber à sua volta – não me importa se os outros estão
bem, desde que o meu “sonho americano” esteja bem.
O desenho dos Simpsons é um bom exemplo disto. O cartunista
norte-americano, Matt Groening, idealizador da série, ao ser questionado sobre
o porquê de seus personagens serem tão neuróticos, esquisitos e alienados e,
paradoxalmente, tão normais, respondeu:
- É divertido rir de americanos estúpidos.
A mediocridade é isso: gente sonhando com a plástica do
nariz, gente sonhando com a viagem à Nova York, com a piscina de 10 mil
litros...
“Não é preciso muito esforço para notar de que é feito o
cotidiano de um indivíduo socioeconomicamente privilegiado. Os assuntos da vida
privada são, de longe, os que dominam qualquer tipo de preocupação. No entanto,
o cuidado, excessivo com o bem-estar não apenas realimenta a cultura do
alheamento como reduplica-se em irresponsabilidade para consigo. A rede de
atendimento aos `famintos de felicidade´ tornou-se um negócio rendoso, e os
usuários, para mantê-la exigem mais exploração dos que já são superexplorados.
Quem vive permanentemente na infelicidade não pode olhar o outro como alguém
com quem possa ou deva preocupar-se. O sentimento íntimo de quem padece é de
que o mundo lhe deve alguma coisa e não de que ele deva qualquer coisa ao
mundo. O `comércio da felicidade´ é orquestrado de tal modo que o sentimento de
deficiência, escassez ou privação pede sempre mais dinheiro e mais atenção para
consigo, como meio de evitar a presença avassaladora das frustrações emocionais”.
[JURANDIR, Freire. A ética democrática e seus inimigos – o lado
privado da violência pública. In: Ari Roitman (Org.). O Desafio Ético, 2000,
p.83-4 (com adaptações)]