Selfie foi considerada a palavra internacional do ano de
2013 – o que isso significa? Ora, depende do ponto de vista. Talvez signifique
apenas que o uso da internet, sobretudo das redes sociais, tenha crescido no
mundo inteiro, talvez signifique a falta de uma ideologia, de uma consciência
crítica universal. Eu fico com o segundo significado. Pois o que é o selfie, ou
pelo menos a grande maioria dos selfie’s, senão a promoção de si mesmo? senão a
vontade de querer aparecer? senão o desejo de querer se tornar melhor do que os
outros?
O sujeito estica o braço e tira uma foto de sua própria
imagem, depois posta o retrato em uma rede social e fica aguardando que os seus
simpatizantes se manifestem; na medida em que as manifestações vão aparecendo,
o indivíduo recebe uma mensagem; em função da ânsia de querer saber quem se
manifestou, acessa-se à internet, compulsivamente; a cada dia é preciso criar
um, dois, três ou mais selfie’s para atrair novos simpatizantes; assim,
gasta-se o tempo. Na Grécia Antiga, a título de comparação, gastava-se o tempo
com filosofia – era comum que as pessoas se reunissem para debater ideias e
pensar.
Que época é a nossa? Para onde estamos indo? O que nos uni?
Porque o nosso vocabulário se empobreceu tanto? Ainda ontem se falava em
revolução, falava-se em amor, acreditava-se em felicidade; hoje, tragicamente,
a palavra é selfie.
“[...] se nos descartarmos da noção de que o Homem, com
letra maiúscula, deve ser visto ‘por trás’, ‘debaixo’, ou ‘além’ dos seus
costumes, e se a substituímos pela noção de que o homem, sem maiúscula, deve
ser visto ‘dentro’ deles, corre-se o perigo de perder por completo a
perspectiva do homem” (p.27).
[GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. 1° Ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2008]