sábado, 25 de janeiro de 2014

Tempo é Dinheiro?

Quem nunca ouviu a expressão “tempo é dinheiro”? Pois é, nos dias de hoje ela é uma verdade.
Basta acessar o Facebook – o mundo acontece lá dentro. A cada piscar de olhos há uma nova notícia, uma nova foto, um novo status de relacionamento. As pessoas publicam suas vidas na rede, passam três, cinco, vinte e quatro horas on-line, na expectativa de que alguma coisa aconteça, deixam de lado a leitura de um livro, um almoço em família, uma conversa com o vizinho, deixam de lado o melhor de si mesmas, e o que sobra, um restinho de nada, elas utilizam no mundo prático – nas escolas, no emprego, na vida.
O resultado é a mediocridade cotidiana, a falta de assunto, o consumismo, a degradação ambiental, a idiotice, o funk ostentação, Justin Bieber, sertanejo universitário, Faustão, François Hollande, pornografia, Mc Donalds, vazio existencial, doenças sexualmente transmissíveis, acidentes de trânsito, raiva, muita raiva.
E enquanto a gente (a coletividade) perde com isso, o dono do Facebook e toda a rede de marketing e de mídia relacionada, ganha. Afinal, tempo é dinheiro.

“O espetáculo é, materialmente, a expressão da separação e do afastamento entre o homem e o homem” (p.135).

[DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Editora: eBooksBrasil, 2003]

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Pensamento Sem Pensamento

Tem gente que fala em pensamento positivo, em esperança, em fé e blábláblá, como se todos os problemas do mundo fossem uma questão simbólica, que se resolvessem num passe de mágica. Pro inferno!
Agora escuto, na televisão, que pais pagavam para que seus filhos menores fossem estuprados ao vivo, e me pergunto “basta pensar positivo?”. Claro que não, é preciso justiça, formação moral, investimento, humanidade, governo, sociologia, enfim, este tipo de crime não se resolve por si só, ele é complexo e não está relacionado apenas com a boa ou má vontade das pessoas.
“Adoro pesquisas. Saiu uma agora, feita pelo Instituto Gallup Internacional, sobre o índice de otimismo econômico de cada país. A Nigéria aparece no topo. Tem a população mais otimista do mundo. A turma vive rindo de nada. E é de rir mesmo. A renda per capita da Nigéria é de 2035 dólares anuais. A França, primeira colocada no ranking do pessimismo, só para fazer um contraponto, tem renda per capita de 33.679 dólares. A Nigéria é o oitavo país mais populoso do mundo, com 148 milhões de otimistas. A maior parte destes otimistas vive na pobreza absoluta. Prova, certamente, de que dinheiro não traz felicidade. O analfabetismo atinge quase 30 por cento destes seres dotados de espírito positivo. (Dizer o quê?). Na França, campeã do pessimismo, a expectativa média de vida chega a 80,7 anos. Já na Nigéria, não chega a 47. Deve ser  um pequeno problema de amostragem ou metodologia” (p.187-188).

[SILVA, Juremir Machado da. A Orquídea e o Serial Killer. In: Senso de Humor. Editora L&PMPocket, RJ, 2012]

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Grandes Discos de 2013

Vendo e ouvindo e comprando todo este lixo que existe por aí – Luan Santana, Gabriel Valim, Restart, Gustavo Lima, Michel Teló, Tiaguinho – a gente se pergunta: onde foi parar a música brasileira? Cantores como Elis Regina e Ney Matogrosso, compositores como Chico Buarque e Caetano Veloso, bandas como Mutantes e Novos Baianos, maestros como Tom Jobim e Villa Lobos, guitarristas como Sergio Dias e Pepeu Gomes, onde estaria toda esta criatividade, toda esta “marca registrada”, todo este “pedigree”? onde teria se escondido a música brasileira? A resposta é fácil: dentro do espírito medíocre da massa consumista.
A mídia inventa um artista, diz que ele é bom, porque sabe rir, porque parece ser boa pessoa, porque fala sobre baladas, porque faz o “estilo moderninho”, porque não critica ninguém, enfim, se o cara está de acordo com tudo, a mídia o apadrinha, e faz dele um rei. Não é preciso saber afinar um violão, não é preciso ser criativo, não é preciso saber escrever, não é preciso saber quem foi Jackson do Pandeiro, basta que o sujeito penteie o cabelo de um modo diferente e pronto, se a mulherada gostar é sucesso.
Mas a verdadeira música brasileira é bem mais do que isso (continua sendo bem mais do que isso), apesar de não aparecer na televisão e nem figurar nas paradas de sucesso. Recentemente foram produzidos discos incríveis aqui no país, de altíssima qualidade. Segundo Joarez Fonseca (crítico musical e colunista), Antônio Carlos Miguel (blogueiro e membro votante do Gammy Latino) e Carlos Calado (crítico musical da Folha de São Paulo), figuram entre os grandes discos de 2013: 

[Vinicius Calderoni. Para Abrir os Paladares (disco). Música: Carne e Osso]


[Cacá Machado. Eslavosamba (disco). Música: Sim]


[Marcelo Jeneci. De Graça (disco). Música: O Melhor do Mundo]


[Referência: Jornal Zero Hora. In: Caderno Cultura. Edição: 28 de dezembro de 2013]

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Pragas Modernas

Segundo a Bíblia, Deus, com a intenção de que Israel fosse libertado da terra do Egito Antigo e a unicidade do Senhor prevalecesse sobre a política, enviou dez pragas pelas mãos de Moisés sobre o Faraó. Esta história é narrada no livro de Êxodo, capítulos 7 a 12; a oitava praga foi descrita assim: “Eis que amanhã trarei gafanhotos [...]. E eles cobrirão literalmente a superfície da terra e não será possível ver a terra; e eles simplesmente devorarão o resto do que escapou [...], e comerão do campo toda a árvore que brota”.
Refletindo um pouco, e observando a nossa época, percebe-se que uma praga semelhante toma conta de tudo: a mediocridade consumista. Observo que muitos jovens estão fascinados pela materialidade, e não são jovens quaisquer, são jovens que cursam faculdade, bons de papo, persuasivos, bonitos; sujeitos que se utilizam de toda a sua capacidade para aparecer numa foto de jornal, na coluna “destaques”; sujeitos que gastam o dia e as forças imaginando formas de tirar vantagens, de ganhar dinheiro; sujeitos que fingem amizade, que vasculham a rede social da filha do delegado, do sobrinho do prefeito; sujeitos que se passam pelo que não são, numa tentativa de “se ampliar” perante os olhos alheios; sujeitos que ficam boquiabertos diante de um veículo novo; sujeitos que, no dia seguinte, comentam os fatos da balada como se aquilo fosse o mesmo que “pisar na lua”; sujeitos sem filosofia nenhuma, enfeitiçados pelo nada, absolutamente vazios, gafanhotos, pragas modernas!