quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Arte Viva

Penso que o princípio da Arte é integrado, quer dizer, o fundamento da poesia é mesmo da pintura que é o mesmo da música que é o mesmo da dança e assim por diante, o que difere, no caso, é a técnica, o instrumento de trabalho – pincel, lápis, violão, sapatilha – porque o sentimento interior – amor, vida, liberdade, paz – repito, é o mesmo.
Em seu livro, intitulado A Preparação do Ator, Stanislavski classifica os diferentes tipos de arte, a saber, arte mecânica, arte imitadora, arte representativa, arte do exagero e arte viva. Esta última, segundo o dramaturgo russo, seria a mais elevada de todas: “a melhor coisa que pode acontecer é o ator se deixar levar pela peça inteiramente. Ele então vive o papel, independentemente de sua própria vontade, sem notar como se sente, sem se dar conta do que faz e tudo se encaminha por conta própria, subconscientemente e intuitivamente [...]. O grande ator deve estar repleto de sentimento e deve sobretudo sentir a coisa que está registrando. Deve sentir uma determinada emoção não uma ou duas vezes apenas, enquanto estuda o papel, mas em maior ou menor grau todas as vezes que o representar, quer se trate da primeira ou da milésima vez” (p.42).  Em outra passagem, Stanislavski completa: “o ator [o artista] deve adaptar suas próprias qualidades éticas e morais à vida de seus personagens e nela verter, inteira, a sua própria alma; de modo a dar-lhe o formato de um verdadeiro espírito humano” (p.43).
Dito isto, é importante ressaltar que a Arte, independentemente do tipo adotado, se torna mais interessante quando é capaz de: i) fugir da “beleza por si só”; ii) fazer pensar; iii) fazer pensar sem infringir os direitos humanos.
O poema abaixo atinge todos estes parâmetros, apesar de ter sido escrito por um menino da quarta série do Ensino Fundamental:


Pode Ter

Pode ter compaixão no inferno.
Pode ter vida no espaço.
Pode ter eternidade na vida.
Pode ter luz no escuro.
Pode ter som no rádio.
Pode ter cores no branco.
Então por que as guerras, as lutas e brigas,
Se pode ter paz na humanidade?
(G.W. A., 10 anos)

Arte é mais alma do que técnica!

[Trecho extraído de: STANISLAVSKI, Constantin. A Preparação do Ator. 24° Ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2008, págs 42-43 (com adaptações)]

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Igreja: Dois Lados

O número de ateus cresceu no último século, mas a grande maioria das pessoas ainda crê em Nosso Senhor. No entanto, sem ir à Igreja.
A gente pergunta:
- Você acredita em Deus?
- Sim, claro que acredito.
- E vai à missa?
- Não, raramente.
Se engana quem pensa que este hábito é de hoje. José Lins do Rego, em seu romance ‘Menino de Engenho’, publicado em 1932, descreve o meio em que passou a infância: “[...] o meu avô não era um devoto. A religião dele não conhecia a penitência e esquecia alguns dos mandamentos da lei de Deus. Não ia às missas, não se confessava, mas em tudo o que procurava fazer lá vinha um ‘se Deus quiser’ ou ‘tenho fé em Nossa Senhora’” (p.36).
Ele, o menino, consequentemente, cresceu “[...] sem o contato com catecismo. Pouco sabia de rezas. E esta ausência perigosa de religião não me levava a temer os pecados” (p.88). Foi esta lacuna na formação de sua personalidade que o conduziria, ainda na pré-adolescência, à imoralidade sexual, com uma escrava negra: “A moleca me iniciava, naquele verdor de idade, nas suas concupiscências de mulata incendiada de luxúria. Nem sei contar o que ela fazia comigo” (p.88).
Deduz-se daí que a Igreja desempenha um papel fundamental na formação de valores morais e éticos norteadores do comportamento humano.

Marx, por sua vez, prefere o lado político da questão. Para o filósofo, o benefício que a Igreja porventura proporciona à sociedade é neutralizado, absolutamente, pelo malefício que a mesma causa:
A religião é o ópio do povo” (trecho extraído do livro Crítica da Filosofia do Direito de Hegel).
De acordo com este pensamento, a idéia de um paraíso póstumo, livre do mal e repleto do bem, arrancaria das pessoas o ímpeto revolucionário, assim, ao invés de reivindicar mudanças, principalmente sociais, os indivíduos optariam pelo conforto de uma vida pacata.

Estas visões antagônicas constituem o que se pode chamar de "os dois lados da mesma moeda".

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Forma Popular do Amor

"A palavra AMOR significa afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido etc. O conceito mais popular de AMOR, no entanto, restringe-se à formação de um vínculo emocional com alguém, geralmente um homem e uma mulher.” (Wikipédia, adaptado)

Faces da forma mais popular de AMOR:

Relações Conturbadas:




(www.umsabadoqualquer.com)


Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

(Mário Quintana – Preparativos de Viagem)


Baby It's You

Esta canção dos Beatles me remete a um baile romântico nos anos 1960. A letra diz: “Não é o modo como você sorri/ que tocou meu coração/ Não o modo como você me beija/ que me deixa em pedaços/ Baby, é você”:


(www.youtube.com.br)


O Teu Sorriso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu sorriso.
[...]
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu sorriso,
porque então eu morreria.

(Pablo Neruda)

Sonhei com Você:


(www.umsabadoqualquer.com)


Metamorfoses do Amor

Disseram-me que o amor está ultrapassado. Que não passa de um vestígio de uma era romântica suplantada pelo mundo pós-industrial. Disseram-me que as separações tornaram-se normais e que só as pessoas desajustadas ou anacrônicas ainda sofrem por causa disso. Disseram-me que as dores de amor são sintomas de outros problemas psicológicos e que só os fracos ou doentes ainda padecem com isso. Disseram-me que as telenovelas e os filmes de amor são outros resquícios, explorados pela indústria cultural, para ganhar dinheiro com os pobres de alma. Disseram-me tanta coisa que me assustei.
Eram doutores que falavam. Eram especialistas que discursavam. Eram técnicos que espalhavam dados e estatísticas sobre a mesa. Um deles, num arroubo, citou a crise da poesia, cujos livros encalham nas editoras, como prova da decadência do amor. Outro falou que o amor era uma marca infantil da fase oral ou coisa que o valha. Todos, enfim, assinaram o atestado de óbito do amor, sem emoção nem piedade. Houve um até que mostrou um dado curioso: haveria mais grupos de adoradores da palestina no Orkut que de adeptos do amor. Apavorei-me. Amor, explicou outro ainda, com ar blasé e gel nos cabelos, é coisa de velho. Os jovens, disse, “ficam”. Em poucas palavras, o amor seria um resto patético no universo tecnológico.
Não me convenci [...].

(Juremir Machado da Silva) 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Luta de Classes Atual

Hoje em dia até um garçom pode comprar um carro; celular e computador então, nem se fala. Quer dizer, a separação que havia entre ricos e pobres ou, usando os termos de origem, burgueses e proletários, já não é tão nítida: o trabalhador foi seduzido pela sociedade de consumo.
Neste contexto, em que situação se encontra a Teoria da Luta de Classes, concebida por Marx? Ela ainda é válida ou não faz mais sentido?
As duas coisas – é válida, entretanto, adquiriu um novo sentido. Em função do enorme conjunto de bens e serviços baratos e de acesso quase que irrestrito, a questão econômica deixou de ser o cerne. Como desdobramento, surgiram questões diversas, relativas às causas ou conflitos das novas "classes" ou dos novos nichos sociais que se desenvolveram sobre o plano econômico estabelecido.
São exemplos desta nova realidade, muito mais complexa, as demandas referentes a uma infinidade de bandeiras separadas: “homossexual, bissexual, travesti, transexual, drag queen, mulher, negro, mulato, pardo, branco, albino, idoso, índio, gordo, magro, anoréxico, bulímico, evangélico, umbandista, católico, cristão, islamita, judeu, muçulmano, batista, ortodoxo, protestante, budista, espírita, religioso, loira, feio, bonito, menor de idade, criança, adolescente, latinoamericano, procedente de país terceiromundista, japonês, chinês, coreano, mongol, tailandês, tibetano, indiano, norte-americano, afegão, iraniano, iraquiano, turco, basco, catalão, galego, sul italiano, português, argentino, mexicano, cubano, haitiano, guatemalteco, grego, protetor de animais, vegetariano, cigano, ativista político, congressista, candidato a cargo público, sacerdote, empregado doméstico, pobre, rico, classe média, sulista, nortista, nordestino, descendente de imigrante, imigrante, professor, amazônico, trabalhador assalariado, operário, trabalhador autônomo, comerciante ambulante, oriental, irlandês, palestino, israelita, africano, indiano, proveniente de baixas castas étnicas, ativista de movimentos sociais, camponês, agricultor, cadeirante, deficiente físico, deficiente mental, portador de síndrome de down, portador de síndromes diversas, diabético, portador de doença degenerativa ou outras doenças visíveis, portador de HIV, portador de doença infecto-contagiosa, estudante, estagiário, subordinado, aposentado, monarquista, republicano, democrata, direitista, esquerdista, conservador, arrojado, vanguardista, filiado a partido político, torcedor de time de futebol, prostituta, detento, ex-detento, artista, hippie, viciado ou usuário de drogas, alcoolista, usuário de anti-depressivo, usuário de ansiolíticos de todo o gênero, portador de síndrome do pânico, portadores de síndromes psicológicas, mendigo, morador de rua, morador de favelas e bairros operários, esportista, dona de casa, familiar de detento, familiar de ex-detento, familiar de político, familiar de doente mental, familiar de foragido da justiça, ciclista, motoqueiro, motorista, nerd, lutador etc.” ( Fonte da citação: devaneiosliterarios.blogspot.com.br).
A questão da luta de classes, portanto, não é mais uma questão somente de cunho econômico, uma mera disputa entre assalariado e patrão; ela se desdobrou e cresceu e, hoje, é tão multifacetária que, em sua tese atual, cabe até mesmo uma briga de escola ou um episódio virtual.

Há, porém, a contrapartida. Se, por um lado, a luta de classes se tornou mais abrangente, no sentido da pluraridade, por outro, seu poder de mobilização, no sentido de mudar o mundo, diminuiu. Antes, quando a sociedade era dividida entre proletários e burgueses, a luta propriamente dita, era global; bastava derrubar os "donos do poder" econômico e construir o comunismo. Hoje não - a causa agora é local e a luta, muitas vezes, excludente. Quem levanta a bandeira dos menores abandonados compete com quem defende os direitos homossexuais, e vice-versa; quem se mobiliza pela causa dos cachorros de rua compete com quem luta contra a violência no trânsito, e vice-versa. Em resumo, a consciência universal foi substituída por ideologias conflitantes.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Redação Técnica

O texto dissertativo-argumentativo é a modalidade mais usada pelos colunistas dos meios de comunicação. “Sua estrutura se organiza em torno da defesa de um ponto de vista sobre determinado assunto. Nele, a opinião é fundamentada com explicações e argumentos, para formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a idéia defendida está correta. Para tanto, é preciso expor e explicar idéias. Daí a sua dupla natureza: é argumentativo porque defende uma tese, uma opinião, e é dissertativo porque se utiliza de explicações para justificá-la” (p.17).
Em um concurso que fiz, para o cargo de Economista, caiu a seguinte proposta de redação:

- Tema: Motivação dos Colaboradores.

Quanto os fatores intangíveis no contexto do trabalho, que estimulam a motivação dos colaboradores, influenciam no alcance dos objetivos organizacionais? Essa pergunta foi feita pela consultoria americana Right Management em estudo realizado em 15 países. Os resultados apontam que pessoas motivadas são 50% mais produtivas e que o salário é o sexto colocado em comportamentos organizacionais que influenciam na motivação dos colaboradores”.

Com base nestas considerações, redija um texto dissertativo-argumentativo, abordando necessariamente os aspectos abaixo relacionados.
- Os fatores que contribuem positivamente para a motivação dos colaboradores.
- As características principais de pessoas motivadas e produtivas no ambiente de trabalho.
- A importância de pessoas motivadas no ambiente profissional.

“Do que adianta possuir máquinas potentes e não possuir colaboradores motivados?
A estrutura física de uma empresa só será bem aproveitada se dentro dela existirem pessoas interessadas no que fazem. Portanto, investir em capital humano é tão fundamental quanto abrir uma nova unidade produtiva. E isso não tem a ver apenas com altos salários. Oportunidade de crescer na hierarquia, coleguismo, diálogo e flexibilização da rotina também são fatores que contribuem positivamente para a motivação dos funcionários.
Do que adianta possuir rios de dinheiro e não possuir um bom diálogo com o colega de escritório? Qual o sentido de trabalhar a vida inteira no mesmo cargo, sem poder crescer na hierarquia? Do que adianta cumprir horários fixos se você se sente mais produtivo dentro de uma rotina alternativa? Os colaboradores motivados são espontâneos, sorridentes, flexíveis e interessados.
É este tipo de pessoa que, num lance de criatividade, será capaz de descobrir uma maneira de facilitar o processo produtivo, desbancando a concorrência.
O capital humano vale mais do que o capital físico”.
(Nota: 8).

[Fonte: Manual de Redação elaborado pelo MEC]