terça-feira, 30 de setembro de 2014

Consciências Individuais Independentes?

Se fala muito em livre-arbítrio, em responsabilidades individuais, em julgamentos, e é muito comum que se usem velhos ditados como justificativa para este modo de pensar, ditados do tipo “o que se colhe é o que se planta”, “Deus conhece todos os passos”, “o seu caminho é você quem faz”... Mas, pouco se fala nas circunstâncias que empurram os homens nestas direções.
sociedade norte-americana esta repleta de exemplos de pessoas que se tornaram famosas do dia pra noite e que, numa velocidade maior ainda, afundaram. Quem não se lembra de Macaulay Culkin, de suas atuações em “Meu Primeiro Amor” ou em “Esqueceram de Mim”? daquele jovem loirinho e inocente, o filho com o qual todas as mães sonhavam? Pois é, ele cresceu e se tornou um problema, se envolveu com drogas e deixou a fama. Quem não se lembra de Mike Tyson, o campeão mundial mais novo da história do boxe que, no auge da carreira, acabou sendo acusado e preso por estupro? Quem não se lembra de Michael Jackson – compositor, cantor, dançarino – o ícone pop, com milhões de cópias vendidas, que foi encontrado morto por uma overdose de medicamentos? Quem não se lembra de Marilyn Monroe? de Kurt Cobain? de Elvis Presley? de Justin Bieber? Pessoas que alcançaram o topo e que, tragicamente, foram arremessadas de lá.
Seria apenas uma mera questão de escolha pessoal que estaria por trás destas histórias mirabolantes? ou haveria mais coisa? Por quais circunstâncias são compostos estes personagens? O que leva pessoas que conquistaram tudo – popularidade, posição social, dinheiro – a, de repente, desistirem de própria vida? É de se pensar. Mas, não há como negar que o meio em que vivemos influencia o nosso modo de entender o mundo.
Émile Durkheim, um dos criadores da sociologia científica, acreditava que os fatos sociais deveriam ser estudados como “coisas”, independentes das consciências individuais: “[...] um sujeito, ao nascer, já encontra pronta e constituída a sociedade. Assim, o direito, os costumes, as crenças religiosas, o sistema financeiro foram criados não por ele, mas pelas gerações passadas, sendo transmitidos às novas através do processo de educação” (p.49).

[MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. Editora: Brasiliense, 29° ed., SP, 1991]

domingo, 21 de setembro de 2014

Mercado acionário: poder materializador

Antes da invenção do carro popular (introduzido nos anos 1920, com o fordismo), o motor da economia norte-americana eram, basicamente, os eletrodomésticos, a construção civil e os bens de consumo não-duráveis, assim, as cidades mais afastadas dos grandes centros industriais não prosperavam. Este impasse geográfico se desfez com a popularização dos automóveis. No prefácio do livro “Seis Contos da Era do Jazz”, Breno Silveira explica isto: “[...] agora, as pequenas cidades e lugarejos que antes enlanguesciam ao sol ou em meio da neve, renasciam, brilhantes e coloridas, pontilhadas de garagens, postos de gasolina, bancas de hot-dog, restaurantes, casas de chá, hotéis e acampamentos para turistas”.
O mundo começava a materializar-se nos moldes como conhecemos hoje e, por detrás do que se via, estava o mercado acionário. Acreditava-se, piamente, que o investimento em ações era benéfico, tanto para as pessoas quanto para as empresas, e seguro, ou seja, não era preciso pensar, não era preciso duvidar, não era preciso entender, bastava apontar o dedo e investir; então, o sujeito, rico ou pobre, pegava as suas economias e comprava ações, como se comprasse pães numa padaria. Foi esta “riqueza canalizada” que possibilitou o assustador crescimento econômico observado: “[...] o número de carros de passageiros aumentou de 7 milhões para 23 milhões [somente nos EUA] na década de 1920. Mais de 1 milhão de visitantes afluíram para ver o novo Modelo A na sede da Ford em Nova York. A empolgação refletiu-se no mercado acionário, onde o preço das ações da General Motors subiu mais de dez vezes entre 1925 e 1928, um avanço tão rápido que pôs o mercado acionário na primeira página dos jornais. Quando J.J. Raskob fez sua proposta para a riqueza universal em agosto de 1929, salientou que um investimento de 10 mil dólares na General Motors feito uma década antes teria rendido mais de 1,5 milhão de dólares” (p.244-245).

[CHANCELLOR, Edward. Salve-se quem puder: uma história da especulação financeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001]

sábado, 13 de setembro de 2014

A Construção do Conhecimento

Antifonte, que viveu na Grécia em torno de 400 a. C., tentou descobrir a área de um círculo enchendo-o de triângulos. No entanto, por mais que continuasse, nunca conseguiria enchê-lo e, por conseguinte, calcular a área exata. Mais ou menos na mesma época, outro grego, chamado Brisão, teve a ideia de inserir o círculo entre duas figuras com vários lados. Topou por sua vez com o mesmo problema. Tentou com figuras de doze lados, depois com figuras de vinte e quatro lados... e quanto mais lados tinham as figuras, mais perto ele chegava da resposta, mas nunca chegaria à resposta exata.


Uns duzentos anos depois, foi a vez do grande Arquimedes. Em vez da área do círculo, ele resolveu se concentrar no cálculo do comprimento da circunferência. Seu ponto de vista residia na seguinte premissa: “A distância percorrida em volta da parte externa pode ser obtida pela multiplicação da distância que passa pelo centro por um número especial”. Então se chegou ao famoso pi, mas, novamente, o problema era calcular o seu valor exato. Arquimedes tentou fazê-lo utilizando um método como o de Brisão, com uma figura de 96 lados, mas, infelizmente, não alcançou a resposta exata.
A Grécia Antiga desapareceu, os séculos se passaram, outras civilizações nasceram e morreram, o Império Romano do Ocidente caiu em 476; nas Américas existiram os Maias, os Incas e os Astecas; na Europa, o mundo antigo deu lugar à Idade Média, veio o feudalismo e a ideia de Deus passou a dominar as relações humanas; com a expansão comercial e marítima, a América, que já existia, entrou na História Oficial com a sua "descoberta" pelos portugueses e espanhóis; enfim, milhares de coisas aconteceram, no entanto, somente no século XVII, ou seja, mais de mil anos depois de Arquimedes, é que o alemão Ludolf van Ceulen, usando figuras com mais de 32 bilhões de lados, encontrou o valor exato de pi e, consequentemente, a área do círculo.


Este método, que se utiliza de medidas cada vez menores para chegar mais perto da resposta, foi, por fim, aperfeiçoado por Newton e, logo em seguida, por Leibniz, recebendo o nome de cálculo diferencial.
Hoje, o estudo desta ferramenta é obrigatório em vários cursos de graduação, de diferentes áreas, entre elas, Engenharia e Ciências Econômicas; na prática, o cálculo diferencial é utilizado na produção da chamada “alta tecnologia”, estando, portanto, em tudo que se pode imaginar, inclusive em computadores e automóveis.

Segundo se conta, Newton, que era muito reservado e que não gostava de publicar seus estudos, foi acusado de plágio por Robert Hooke; em 1976, através de uma carta, Isaac respondeu: “Se consegui enxergar mais longe é porque estava apoiado sobre ombros de gigantes”.

sábado, 6 de setembro de 2014

Sobre a espiritualidade humana

O homem julga-se o próprio Deus, não há limites, não há contentamento, sua alma possui uma sede infinita – ele não busca a paz nem a igualdade, mas a disputa e a diferenciação.
Os edifícios poderiam ter dez andares, para que o espaço fosse mais bem ocupado e todas as pessoas pudessem morar, os carros poderiam ter a mesma potência e cor, para que as pessoas pudessem se locomover com mais facilidade e segurança, as igrejas poderiam ter os mesmos símbolos e rituais, para que a espiritualidade fosse o principal motivo da missa, entretanto, na prática, os edifícios são muito maiores do que deveriam e mesmo assim ainda tem gente na rua, os carros em nada se parecem e são mais um instrumento de status pessoal do que um meio de transporte, as igrejas não se comunicam entre si e se preocupam mais com a formalidade do que com o ensinamento. O que pensar?

“Passaram-se os séculos. As pegadas de cada geração destruíram as pegadas das gerações anteriores. Os deuses antigos abandonaram o país. Outros deuses lhes sucederam. Os majestosos templos da cidade do Sol foram demolidos. Os belos palácios converteram-se em pó. Os jardins verdejantes secaram. Os campos férteis se transformaram em deserto. Subsistiram apenas as ruínas gigantescas, como sombras do glorioso passado” (p.31-32).
O homem possui inteligência, mas não possui sabedoria.

[GIBRAN, Khalil Gibran. As Ninfas do Vale. Editora Associação Cultural Internacional Gibran, RJ, 1976]