quinta-feira, 28 de junho de 2012

Teoria da Dinâmica Econômica

Quando a economia para de crescer a sociedade entrar em crise. O lucro do empresário diminui, o comerciante passa a vender menos, funcionários são demitidos. Logo, a arrecadação de impostos por parte do Estado cai - a educação, a segurança e a saúde pioram. Grosso modo é isto.
Investigando questões deste tipo, isto é, questões que procuram entender porque a atividade produtiva cresce ou entra em recessão, Schumpeter, um dos economistas mais importantes e influentes do século XX, descobriu que os bons níveis de crescimento dependem fundamentalmente do empresário inovador. Segundo ele, “o fluxo de produção do trabalho dos cientistas e engenheiros vai se desenvolvendo e se acumulando ao longo dos anos, sem que se faça um verdadeiro proveito destas descobertas e invenções. Até que uma empresa, por meio do arrojo de um de seus executivos, assuma os riscos de colocar em prática a teoria acumulada. O resultado é um novo processo, bem ou serviço. Em troca, como recompensa da ousadia, o empreendedor é abençoado com lucros extraordinários.
Os que não ousaram têm seus lucros reduzidos. Ou seja, para os menos arrojados a imitação transformar-se em uma questão de sobrevivência. Isto porque os lucros extraordinários do inovador são devidos, em parte, a um mercado em expansão que resulta da implantação da própria inovação, e, por outra parte, a um decréscimo na parcela do mercado dominada por seus rivais. Logo, surge um imenso fluxo de investimentos em função dos ajustes requeridos para se restabelecer as condições de competitividade entre os rivais.
Isto é o início: uma inovação e uma indústria. Porém, um número qualquer de outras invenções estão sendo aplicadas em toda a economia ao mesmo tempo. Durante o recesso econômico anterior, as inovações foram colocadas em uma posição de imobilidade, eis que não prometiam ser rentáveis, entretanto as invenções continuaram a se acumular. Com o passar do tempo, as possibilidades comerciais de um número cada vez maior dessas invenções pareceram cada vez mais viáveis até que alguns daqueles empresários perspicazes e de visão de futuro, decidiram que as perspectivas eram suficientemente promissoras para que eles ‘dessem o mergulho’. Com cada inovador gerando seu séquito de imitadores e com a atividade econômica em expansão, reforçando as perspectivas de sucesso para outras inovações ainda, a economia se eleva no âmbito de um período de expansão caracterizado por um aglomerado de inovações e pelo rápido crescimento nos gastos de investimento que acompanha o processo de inovação.
A prosperidade geral, porém, não é ilimitada. Chega um momento em que a oportunidade de se investir na nova área começa a declinar, como se a economia descrevesse um ciclo. Para cada inovação sob a forma de um novo bem de consumo, é uma simples questão de tempo até que novas fábricas, necessárias para produzir aquele bem, sejam construídas. Esta inovação terá, então, provido os gastos de investimento a serem esperados de sua implantação. Assim, os gastos de investimento em geral, quer incorridos para produzir um bem novo, reduzir custos ou abrir novos mercados, quer pra desenvolver novas fontes de suprimento, terão, eventualmente, sido feitos, e os desejados bens de capital comprados. Logo, todas as inovações que os inovadores julgam ser dignas de serem adotadas já forma adotadas; o ’boom’ chega a um fim porque os gastos de investimento gerados pelas inovações simplesmente se esgotaram. Este esgotamento é inerente ao próprio modus operandi dos fatores do progresso”.

Observe, leitor, o quanto “o drama da evolução capitalista” depende do arrojo e da criatividade de alguns indivíduos.

[SHAPIRO, Edward. Análise Macroeconômica. Editora: Atlas, 1994, 2° ed. Trechos extraídos das páginas 568-572 (com adaptações)].

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sustentabilidade ou Colapso?

Há, entre os cientistas, divergências quanto à crise ambiental. Para um grupo, não se trata de crise, mas de transformações próprias do ciclo natural do planeta, que pouco ou nada tem a ver com a ação do homem. Para um segundo grupo, as catástrofes naturais, cada vez mais freqüentes, se devem, sobretudo, ao nosso modo de vida, fundamentado, pelo indivíduo, no consumismo, e, pelo sistema, no crescimento a qualquer custo. Um terceiro conjunto de cientistas não acredita na sustentabilidade, por entender que as novas tecnologias, ao invés de reduzirem o impacto da economia sobre o meio ambiente, contribuiriam para aumentá-lo. O texto a seguir expressa a minha posição em relação ao tema.
“Um dos sistemas mais complexos que se conhecem, o clima da Terra sempre norteou os rumos da humanidade. Nos primeiros 250.000 anos da história do homem moderno, no período Pleistoceno, a temperatura era mais baixa do que a atual e havia muita instabilidade climática. Separados em tribos nômades, nossos ancestrais sobreviviam do que conseguiam colher e caçar em tempos de fartura. Durante os últimos 10.000 anos, no período Holoceno, um clima mais quente e estável permitiu desenvolver a agricultura e os assentamentos permanentes. Novas tecnologias foram utilizadas para domesticar ecossistemas, administrar suprimentos de água e proteger a população das intempéries. Esses processos alteraram o ambiente de forma radical. Nada se compara, porém, ao que aconteceu nos últimos 100 anos. A utilização de combustíveis fósseis – carvão mineral, petróleo - possibilitou o desenvolvimento de uma economia global. A população humana alcançou a casa dos bilhões de habitantes. Megacidades foram erguidas. A escala resultante do impacto humano sobre a Terra foi tão sem precedentes que essa centena de anos resultou em um novo período geológico: o Antropoceno.
Hoje, por causa da degradação ecológica e das emissões de gases de efeito estufa resultantes deste processo industrial, corremos o risco de modificar o ambiente em um ritmo alucinante, que inviabiliza a capacidade da espécie humana para se adaptar às mudanças. A civilização esta de tal modo interconectada que, caso ocorra um colapso, ele será global, e não mais regional, como nos primórdios. É preciso tomar uma decisão e reconhecer que o crescimento econômico consome os recursos e produz resíduos que degradam o ecossistema. É hora de produzir, mas com sustentabilidade, em lugar de crescer a qualquer custo. Resumindo: nossa visão de mundo terá de ser transformada, assim como as tecnologias e as instituições, antes que se esgotem as chances de existirmos sobre a Terra”.

[CONSTANZA, Robert; FARLEY, Joshua. Sustentabilidade ou Colapso. Revista Veja, n° 2.196, ano 43, p.80, dezembro de 2010 (com adaptações)].

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Construção Institucional da Sociedade

A sociedade é um corpo complexo – o homem existe a milhares de anos. E a noção, certa ou errada, que temos de nós e do mundo, é a que nos impeli a agir. Tudo, portanto, é o resultado da nossa ação, inclusive a sociedade.
Mas, de que modo o agir individual se torna coletivo? ou, de que maneira sobrevivemos e nos construímos em meio à complexidade? Isto se dá através da organização institucional.
       Em sua obra Liberalismo, Theodore Meyer Greene aborda o tema. Segundo o autor, "existem cinco instituições básicas – o Estado, a família, a escola, a igreja e a economia. O objetivo do Estado é a lei e a ordem; o da família, o amor; o da escola, a educação; o da igreja, a crença; e o da economia, a subsistência" (pág.s 140 e 146). De fato, é assim. Sem um emprego, o homem não poderia se sustentar; sem um sustento não teria uma família; sem o amor de uma família, sua vida não faria sentido; sem um sentido não haveria vontade de aprender; sem educação, o homem não entenderia a lei.
       "Evidencia-se, pois, que essas cinco instituições não são, de forma alguma, distintas em relação às outras em sua natureza e função. O amor deve estender-se além do círculo da família. A educação não é de responsabilidade exclusiva da escola. O governo não pode manter a lei e a ordem sem o apoio ativo da grande massa de cidadãos. À religião faltaria força espiritual e influência se confiasse apenas às igrejas a atividade crítica de suas idéias. Sem a indústria e o comércio, o mundo não se organizaria materialmente" (p.146).
       A sociedade se constrói a partir da capacidade institucional do homem.
       (Trechos com leves adaptações).

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Futebol em Verso e Prosa

Joguei futebol durante dez anos, numa escolinha. E outros tantos fora dela. Hoje, mais como analista do que como peladeiro, assisto às principais partidas. Uma em especial me chamou a atenção: a que eliminou o Barcelona da Champions. Foi inacreditável. O Chelsea, algoz do time catalão, se defendeu com 11 atrás. E, pra delírio geral, venceu no contra-ataque. Os amantes do futebol ficaram decepcionados. Mas, isto não diminui nem desmerece a grandeza do melhor time de futebol dos últimos dez anos, pelo menos. Suas lições táticas se multiplicam pelos gramados afora. Não há equipe no planeta, grande ou pequena, que não imite o Barça. Inclusive nós, brasileiros. Viva o toque de bola! 

Em homenagem ao futebol-bem-jogado, eis aqui duas belas obras. Um poema e uma crônica.

Em Coríntians (2) vs. Palestra (1), Antônio Castilho de Alcântara Machado narra um pênalti. De um jogo na década de 1930. O jogador Biagio vinha com a bola, havia driblado um e se preparava para o chute, quando foi derrubado:

- CA-VA-LO!
Prrrrii!
- Pênalti!
Miquelina pôs a mão no coração. Depois fechou os olhos. Depois perguntou:
- Quem é que vai bater, Iolanda?
- O Biagio mesmo.
- Desgraçado.
O medo fez silêncio.
Prrrrii!
Pan!
- Go-o-o-ol! Coríntians!

(MACHADO, Alcântara. “Coríntians (2) vs. Palestra (1).” In: Brás, Bexiga e Barra Funda. São Paulo, O Estado de São Paulo/ Klick Editora, 1999. Páginas 52-53).

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A literalidade da crônica a seguir é comovente. Dá pra sentir a vida, a experiência do escritor enquanto escritor. A análise, o entendimento de causa. Tudo feito à mão, de um modo rústico, artesanal. Nem mais nem menos.

Pelada De Subúrbio

Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.
A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.
Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.
Na terceira a bola ficou por lá; ou melhor, veio, mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nú da cintura pra cima. Era o dono da chácara.
A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.
No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha.

(NOGUEIRA, Armando. Do Livro: “Os melhores da crônica brasileira”, José Olympo Editora – Rio de Janeiro, 1977, pág. 22).