Muitas vezes a realidade social não agrada.
Prostituição, violência, miséria – são facetas de um cotidiano que não
queríamos que existisse. Mas, o que fazer? Ou, seria o ‘fazer’ uma
questão de livre-arbítrio? Para os que acreditam
que tudo é uma opção individual, não haveria nenhuma ação que corrigisse isto, pois os
marginalizados estariam agindo de acordo com a própria escolha. Neste caso, só
um ‘relâmpago de consciência’, caído do céu, seria capaz de modificar, para o
bem, a mentalidade destes sujeitos. Uma outra concepção de sociedade, menos
reducionista, acredita no Estado como alternativa - por meio de
políticas públicas de integração social, os governantes poderiam atenuar as
graves distorções da nossa realidade.
Entretanto, em função dos sucessivos escândalos
de corrupção, o povo deixou de acreditar na política como instrumento de obra
social, passando, cada vez mais, a crer na ideia absurda de que as coisas irão
se resolver sozinhas ou, simplesmente, que não se resolverão, sendo melhor
deixar tudo como está e passar a viver como um verdadeiro indivíduo, pensando
apenas em si mesmo.
Esta é uma posição egoísta, mas compreensível e
muito comum. O que não ficou claro, contudo, é que ‘política’ é uma coisa e
‘político’ é outra e, também, que a cidadania é uma obrigação de cada um, tanto
quanto a missa de domingo o é para a dona de casa. Em outras palavras, por
detrás da ação pública devem sempre estar o governante e o povo, e não só o
governante como é mais frequente.
Na Constituição Federal, encontra-se o
seguinte: “Art. 6° São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade,
à infância e a assistência aos desamparados”. Imagine, você, se todos,
sem distinção de raça, credo ou classe, reivindicassem o cumprimento desta lei;
imagine, você, se todos, negro ou branco, cristão ou ateu, rico ou pobre,
passassem a se interessar pelo cumprimento desta lei do mesmo modo como se
interessam por seus objetivos materiais; imagine, você, se todos, sem
distinção, se mobilizasse da mesma maneira como se mobilizam pela compra de um
carro ou por uma partida de futebol, quanto tempo levaríamos para construir uma
sociedade verdadeiramente justa? Um dia?
[Trecho extraído da Constituição da República Federativa do Brasil. Edição Administrativa: Senado federal. Brasília, 2002. Página: 20].