Uma cliente, que há cinco anos investirá 15 mil, apareceu
hoje na agência para fazer o resgate do dinheiro. Fiquei impressionado com o
rendimento: mil por ano.
Logo pensei nos donos de lancherias, nos garçons, nos
frentistas, nos mecânicos, nos professores, nesta gente toda que tem de ”suar a
camisa” debaixo de sol, debaixo de chuva, sob o olhar antipático do patrão,
oito horas por dia, pra ganhar um salário mirrado, que mal e porcamente dá pro
básico; pensei também nos homens ricos, naqueles que ganham muito mais do que
conseguem gastar, sem derramar um gota sequer de suor; comparei estas duas
classes de pessoas, a natureza de seus rendimentos; conclui, sem sombra de
dúvidas, que a vida é mais fácil para quem investe no mercado financeiro.
Imagine, ó leitor, quem tem 150 mil para aplicar? e quem
tem 1,5 milhão? e quem tem 150 milhões? e quem tem 1,5 bilhões? viveria apenas
dos rendimentos, sem nunca mais precisar vestir um uniforme de trabalho, viajando
à passeio pelo mundo afora, comendo do bom e do melhor? Sim, basta fazer a
conta. Tomando-se como parâmetro o exemplo do primeiro parágrafo, para um
investimento de 150 mil, teríamos um retorno de 50 mil; para 1,5 milhão, 5
milhões... para 1,5 bilhão, portanto, 500 milhões. Dinheiro suficiente para
comprar um iate, uma casa no campo, uma casa na praia, um apartamento na
cidade, um jatinho particular, uma ferrari, uma lamborghini, um porsche, uma
harley-davidson, uma viagem à Paris, uma viagem à Tóquio, uma viagem à Nova Yorque...
500 milhões é dinheiro suficiente pra comprar tudo isso e mais qualquer outra
coisa que você quiser, é dinheiro suficiente pra viver 70 anos sem ter que
trabalhar um único dia na vida.
E o mundo gira assim a muito tempo, a gente é que não sabe:
“Orçamentos e armamentos, comércio exterior e matérias-primas, independência
nacional e soberania eram, agora, funções da moeda e do crédito. Já no último
quarto do século dezenove, os preços mundiais das mercadorias constituíam a
realidade principal das vidas de milhões de camponeses continentais; as
flutuações do mercado monetário de Londres eram anotadas diariamente pelos
negociantes de todo o mundo, e os governos discutiam os planos para o futuro à
luz das situação dos mercados de capitais mundiais. Só um louco duvidaria de
que o sistema econômico internacional era o eixo da existência material da raça
humana” (p. 35).
[POLANIY, Karl. A Grande Transformação. Rio de Janeiro: Campus,
1980, 306 páginas]