Quando o PIB não cresce, a Economia entra em
crise e, por consequência, a sociedade também. Desde a Revolução
Industrial tem sido assim,
mas, por quanto tempo ainda?
Os recursos naturais que a cem, duzentos anos,
eram tidos como ilimitados, hoje estão em falta; o planeta está esgotado, os
desastres climáticos se tornaram cada vez mais frequentes, cada vez mais
globais; o consumismo predatório, nos moldes norte-americanos, já não é mais
possível. E mesmo “crescendo a jato”, como cresce a China a 30 anos, com taxas
que ultrapassam os 7% anuais, os padrões de vida continuam ruins - o ar de lá é
uma cortina de fumaça e os rios, um esgoto a céu aberto. Em outras palavras, o PIB,
por si só, é insuficiente para nos proporcionar a tão sonhada felicidade.
No documentário “Comprar, Tirar, Comprar” (direção de Cosima Dannoritzer;
produção de Davina Breillet) se critica uma prática muito comum no meio
empresarial, a chamada “obsolescência
programada”; a grande indústria – automotiva, eletroeletrônica, têxtil,
química – fabrica seus produtos com um tempo de duração pré-estabelecido, com o
intuito de que “se acabem” logo, obrigando os consumidores a adquiri-los
novamente. A própria Apple teria aderido à prática, através do tão celebrado iPod. A bateria deste aparelho, segundo o documentário, estaria programada para durar em média 18 meses, após
esse período, se o cliente ligasse para a fabricante em busca de alternativas,
seria orientado a comprar um novo, ao invés de “consertá-lo”. Assim,
estimulando o consumismo, a empresa teria sua margem de lucro potencializada,
em detrimento da sustentabilidade.
Ao descobrirem a fraude, um grupo de
videoartistas, liderados por Casey Neistat, saiu pelas ruas de Nova Iorque
pichando sobre as propagandas da Apple os dizeres “a bateria não substituível do iPod dura apenas 18 meses”. Em
função do protesto, uma advogada de São Francisco, Elizabeth Pritzkar, que se
sentia lesada pela multinacional, ingressou com uma ação na justiça – a
falcatrua ganhou os noticiários e, após a constatação técnica do problema, a
empresa da “maçã mordida” criou um serviço de troca de baterias e prolongou a
garantia do iPod para dois anos. Indignada, Elizabeth
desabafou:
- Algo que me chateia pessoalmente é que a Apple se apresenta como uma empresa moderna,
jovem e avançada. No entanto, é no mínimo contraditório que uma empresa assim
não tenha uma política ambiental que permita ao consumidor devolver os produtos
para reciclagem e eliminação.
E não termina aí. O documentário ainda mostra
que toda esta sucata tecnológica, resultante do descarte dos “produtos
vencidos”, acaba indo parar nos países africanos, sob o pretexto de “reduzir o
abismo digital”. O engraçado é que menos de 20% chega em condições de
reaproveitamento.
Até quando isto? esta mentira, esta exploração
dos mais fracos pelos mais fortes? até quando esta separação entre os povos,
entre as pessoas, entre as classes? até quando o meio-ambiente aguenta? até
quando o PIB continuará governando o planeta?