Fernando Nogueira da Costa é doutorado em Economia, é professor
da Unicamp, foi vice-presidente de Finanças e Mercados de Capitais da Caixa
Econômica Federal, entre outras coisas, e, atualmente, além de lecionar, edita
o blog Cidadania & Cultura. Em uma das visitas que fiz à sua página na
internet, deixei um comentário que gerou uma resposta que gerou outra resposta
e, assim, se estabeleceu um diálogo.
FERNANDO: Querem Deus a seu lado e acreditam que estão a
serviço dele – o que é isso, senão uma forma extrema de idealismo? Os crentes
partem da conclusão para a prova.
DIEGO: Eles dizem “eu não participo deste sistema de
coisas” e, no entanto, seus filhos frequentam a escola (o estabelecimento de
ensino não é uma representação política da sociedade?). Enfim, penso que existem três hipóteses contra a Bíblia: os
fósseis de dinossauros, a Teoria da Evolução (homem – macaco) e o
homossexualismo (como fator psicossocial). Entretanto, se a religião não é
importante do ponto de vista político-científico, ela é importante
principalmente no momento da morte, quando o indivíduo perde a mãe, por
exemplo.
FERNANDO: Confesso que não entendi o argumento da escola e
nem o do homossexualismo. O último diz respeito à religião como consolo, não? Quanto
às “hipóteses contra a Bíblia”, é necessário entender o que ela é. “Como as
obras de Homero, a Bíblia hebraica (Antigo Testamento) é ambientada em fins do
segundo milênio AEC (Antes da Era Comum), mas foi escrita mais de 500 anos
depois. Em contraste com as obras de Homero, porém, a Bíblia é venerada hoje
por bilhões de pessoas que a consideram sua fonte de valores morais. (…)
Estudiosos modernos da Bíblia concluíram que ela foi um trabalho colaborativo
nos moldes da nossa Wikipédia. Ela foi compilada no decorrer de 1/2 milênio por
escritores que tinham diferentes estilos, dialetos, nomes de personagens e
concepções de Deus, e então montada a esmo, o que a deixou repleta de
contradições, duplicações etc.” (Steven Pinker, 2013: 42).
“Obviamente, não
existem evidências diretas de coisa alguma que Jesus teria dito ou feito. As
palavras atribuídas a Jesus foram escritas décadas depois de sua morte, e a
Bíblia cristã, como a hebraica, é crivada de contradições, histórias sem
confirmações e óbvias invenções. Enfim, se uma nos permite vislumbrar os
valores de meados do primeiro milênio antes da Era Comum, a Bíblia cristã nos
revela muita coisa sobre os dois primeiros séculos da Era Comum.” (Steven
Pinker; 2013: 43).
Cabe essas obras antigas servirem como parâmetros para os valores
de hoje?!
DIEGO: Com o argumento da escola eu quis traçar uma linha
entre a prática e a teoria. Em outras palavras, na cidade onde eu moro é muito
comum que religiosos preguem, nos domingos pela manhã, de casa em casa. Então,
educadamente, eu os recebo. Eles dizem “Deus é o caminho e tudo esta na
Bíblia”, e não aceitam nenhuma ideia que os contrarie. Quando a gente diz “eu
li Marx, eu li fulano de tal”, eles respondem “tudo é filosofia vã”. O que é
tranquilamente questionável: se eu não conheço os diferentes pontos de vista,
como posso saber o que é a verdade?. Por fim, eles dizem que política não serve
pra nada e que eles não se envolvem com política. Porém, eles próprios possuem
carros e os filhos deles frequentam a escola e possuem perfis no Facebook.
Carro, escola e Facebook não são manifestações políticas da sociedade? As ruas,
por onde eles caminham, as roupas que eles vestem, a vida deles inteirinha não
é uma manifestação política e histórica? No fundo, esses sujeitos participam
sim deste sistema de coisas, só que não sabem.
O argumento do homossexualismo se refere a
contemporaneidade desta manifestação. “É o que existe de mais original no
século XX e XXI” – eu ouvi em algum lugar. Enfim, existe uma explicação
científica para o homossexualismo. Uns dizem que é genético, outros dizem que é
psicológico, um terceiro grupo diz que é social. Por exemplo, rapazes criados
sem a presença do pai tem uma probabilidade maior de se tornarem gays.
Entretanto, no livro de Gênesis, está escrito que Deus criou a mulher para que
o homem não ficasse sozinho, não se fala, por exemplo, da possibilidade de pessoas do mesmo
sexo se relacionarem. Entende? Porque é “errado” se é uma manifestação da
natureza, assim como o nascimento o é?
FERNANDO: Entendi. Apenas quanto ao homossexualismo, veja o
que a Wikipédia informa. “Ao longo da história da humanidade, os aspectos
individuais da homossexualidade foram admirados, tolerados ou condenados, de
acordo com as normas sexuais vigentes nas diversas culturas e épocas em que
ocorreram. Quando admirados, esses aspectos eram entendidos como uma maneira de
melhorar a sociedade; quando condenados, eram considerados um pecado ou algum
tipo de doença, sendo, em alguns casos, proibidos por lei”.