quarta-feira, 29 de maio de 2013

Por que?

Dentro da Literatura 
existem nomes imortais, 
tidos como insuperáveis, são os chamados "clássicos". Que amante das Letras nunca ouviu falar de Shakeaspeare? de Sartre? de Euclides da Cunha? de Dostoievski? Literato que se preze conhece estes caras e o que eles escreveram. De uma forma ou de outra, sabemos que Romeu e Julieta é uma história de amor shakespeariana, que Sartre também era filósofo, que Euclides da Cunha escreveu "Os Sertões" e que Dostoievski é russo e foi tão famoso quanto o seu compatriota, Leon Tolstoi. 
Na estante de livros, procurei por algum deles. Crime e Castigo, o primeiro que encontrei – tradução de Carlos Heytor Cony, 271 páginas, versão reduzida. Abri. Logo na contracapa uma surpresa “Dostoievski é tido como o fundador do existencialismo”. Comecei a folhear a obra, curiosamente, tentando encontrar um vestígio. (As passagens nos revelam muitas coisas). Na terceira ou quarta encontrei:
"- Por quê? – perguntou Sônia assombrada.
- Eu, agora, não tenho mais ninguém senão você. Passemos a viver juntos. Venho buscá-la. Se somos os dois malditos, fiquemos juntos, então.
- Mas... para onde vamos? – perguntou, assustada, e, involuntariamente, retrocedeu.
- Não sei. Só sei que havemos de seguir o mesmo caminho, é só o que sei. Ter o mesmo fim.
- Não compreendo...
- Haverá de compreender. Não fez, por acaso, o mesmo que eu? Você também infringiu a norma, foi capaz de infringi-la. E perdeu para sempre a sua vida. Mas não pode manter-se assim. Se ficar sozinha, acabara por perder o juízo. Tal como eu. Nós dois devemos seguir o mesmo caminho. Vamos!
- Mas por quê?” (p.202-203).

Como diria Sartre "a existência precede a essência".

[DOSTOIEVSKI, Fiódor. In: Crime e Castigo. Editora Ouro, Rio de Janeiro, 1960].

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Homem-Natureza

Na TV escola assisti a um documentário sobre sustentabilidade.
O ponto de largada foi a história de vida de um rapaz. Ele havia se formado em arquitetura e logo começou a trabalhar na área. Tinha uma proposta diferente, fazia a base das casas sem usar cimento, com madeira de eucalipto reciclada; numa segunda etapa, antes de construir o corpo da edificação, erguia o teto, o que numa região chuvosa como a de Ubatuba, contava muito. Em pouco tempo o jovem arquiteto viu brotar, em meio à paisagem natural de sua cidade, centenas de projetos seus, e com isso ele ganhou muito dinheiro.
Ganhou dinheiro, mas, em função de seus ideais que iam invariavelmente contra o consumismo, resolveu mudar de ares. Com as economias que fez, pegou as malas e saiu pelo mundo. Nesta viagem, feita boa parte dela com uma bicicleta, conheceu as ecovilas australianas. Se apaixonou outra vez... Retornou ao Brasil dois anos e meio depois, obcecado pelo conceito de bioarquitetura.
Em meio a um mato construiu a sua casa, praticamente autossustentável – com sistema de reutilização da água da pia e do chuveiro, aquecedores alimentados pelo sol, plantações adubadas pelas fezes humanas e milhões de outras coisas que vocês nem imaginam. “Nem sempre tenho dinheiro, não sei ao certo se sou mais feliz ou menos feliz do que antes, entretanto, hoje, vivo de acordo com as minhas idéias” – disse ele.
Será que este rapaz esta mudando o mundo com a sua prática? Talvez sim, talvez não. Mas isto pouco importa. O mundo é amplo demais, não se resolve aqui, a vida da gente, ao contrário, sim, pode dar certo. É isso que eu prego, meus amigos, que cada um de nós resolva a própria vida, que a gente ponha em prática o pensamento, ao invés de simplesmente pensar. 

A história de vida deste rapaz representa o equilíbrio entre o homem e a natureza, tal como descrito pelo poema:

"Nasci para administrar o à-toa
                                          o em vão
                                           o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhança de pessoas com árvores
                                   de pessoas com rãs
                                    de pessoas com pedras
                                     etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.

A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
sabiá
mas não pode medir seus encantos
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem
nos encantos de um sabiá".

[BARROS, Manoel de. In: Livro Sobre Nada, Editora Record, RJ/ SP, 3° Edição, páginas 51-52].


quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Civilização é Foda!

Aluguei uma casa. Quando estava saindo dela dei de cara, pela primeira vez, com o meu novo vizinho, Seu Butzke. Formalmente nos cumprimentamos e logo em seguida vieram as perguntas, as únicas perguntas que um senhor de 70 anos, conservador, moralista, casado desde a juventude com a mesma mulher, poderia me fazer: de onde você é? onde você trabalha? quanto vai pagar de aluguel?
A civilização é foda, não há meio-termo pra ela, ou você se adapta ou cai fora. É um pouco o que Darwin queria dizer com ‘seleção natural’. Mas eu não reclamo, já entendi isso. Talvez não tenha como ser de outra maneira, talvez seja preciso representar o papel.
Vocês já assistiram “O Show de Truman – O Show da Vida”?, é dessa representação que eu falo:
- Bom dia, e se a gente não se ver, boa tarde e boa noite.
É engraçado, mas esta é a mentalidade da nossa época. No trabalho escuto falar de metas, meu colega me pergunta “porque você não compra um carro?”, se um vizinho pinta a casa ou troca a calçada, o outro pinta a casa e troca a calçada também, afinal de contas, estamos competindo.
Pra sair disto só pegando um livro, alugando um filme, escrevendo um blog ou, como costumava fazer Rui Barbosa, apreciando a vida não-industrial: “A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, tudo assim, desde os astros, no céu, até os micróbios no sangue” (p.73-74). 

“Os apetites humanos, no entanto, conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem” (p.74).
- Bom dia, e se a gente não se ver, boa tarde e boa noite.

[BARBOSA, Rui. In: Oração aos Moços. Editora Ouro. Rio de Janeiro, 1949, com adaptações].

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Explicação Científica p/ as Emoções

Os profissionais de sucesso possuem um QI emocional altíssimo, basicamente porque eles são capazes de pensar e, logo em seguida, de pôr em prática. É fácil: do que adianta um político conhecer todas as leis se, na hora de negociar um acordo, toma decisões erradas? ou um lutador dominar todas as diferentes técnicas de combate se, quando provocado pelo adversário, se desconcentra e perde?
O fisilogista russo Pavlov explicou isto através de uma experiência feita num cachorro. “A fim de obter suco gástrico puro, sem mistura de alimentos, cortou a garganta do animal, e afixou as duas extremidades, mediante sutura, à pele do pescoço, de forma que toda comida ingerida caísse pelo buraco. Cortou também o estômago do animal, mediante o mesmo processo. O cachorro, então, comia com grande apetite, sem notar que todo o alimento lhe escapava  pelo pescoço. E, assim que comia, começava o seu estômago a segregar grande quantidade de suco gástrico, embora os alimentos não estivessem chegando até lá” (p.26). Em outras palavras, a ação muscular é influenciada e regulada pelos nervos.
Em nós, também o intelecto é regulado pelo sistema nervoso. O cinema evidencia isto nos filmes de comédia – o mocinho, amedrontado, tenta se aproximar da garota, quando vai dizer alguma coisa, não consegue, envermelha e engasga.

[FRISCH, Karl von. In: Nós e a Vida. Editora Globo, Porto Alegre, 1975, com adaptações].

sábado, 4 de maio de 2013

A Arte como Instrumento Político

Não se consegue mudar o mundo pintando um quadro. Não se consegue mudar o mundo escrevendo um poema ou compondo uma música. A não ser que este quadro, este poema ou esta música atinjam a estrutura política da sociedade.
John Lennon percebeu isto - ele foi o primeiro rockstar a conversar com um chefe de Estado. É fácil de entender o porquê. O ex-beatle deve ter pensado “do que adianta ser contra a guerra e não dizer isso pro presidente norte-americano?”.
A mais ou menos 40 anos era lançado, pela gravadora EMI, um dos mais importantes álbuns já feitos: Imagine. Contendo 10 faixas, entre elas, Working Class Hero (um hino revolucionário “Você pensa que é esperto, sem classe e livre/ Mas você continua sendo um plebeu fodido até onde conseguir ver”), It’s So Hard (uma abordagem existencialista “Você tem que viver/ Você tem que amar/ Você precisa ser alguém/ Mas é tão difícil”), Crippled Inside (aqui ele diz “Somos todos aleijados por dentro”), Oh my Love (com uma atmosfera mais tranquila “Eu sinto sonhos/ Eu sinto a vida/ Eu sinto amor), além da própria canção que dá nome ao álbum Imagine (em ecstasy espiritual “Imagine não existir países/ Nem religião também/ É fácil se você tentar”).
Com esta obra, Lennon nos incita a pensar acerca do que tomamos como natural – nossas crenças, nosso patriotismo, nossas posses – e, então, nos convida a imaginar uma mudança no nosso modo de pensar e agir. Convida não só o jovem rebelde, a mulher romântica ou o fã declarado, mas também o padre, o professor, o político, enfim, toda a estrutura da sociedade.