terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pensamento Crítico

É difícil encontrar quem questione. Para a grande maioria tudo é como deveria ser. E, o que e pior, para a grande maioria, tudo é uma questão de interesse pessoal. Ou seja, o indivíduo não se percebe como parte da sociedade, mas, antes disso, como um alienígena, a quem tudo é permitido: roubo, desonestidade, esperteza. Há uma sensação de ausência de valores e normas éticas comuns - estado de selvageria social. Muito disso se deve à falta de reflexão.
O pensamento crítico rompe com esta lógica. Ele procura entender o que existe por detrás das coisas. Veja os exemplos:

A) 
       O papel dos submissos é submeter-se
       A quem, pouco importa.
       O papel dos insurgentes é insurgir-se
       Contra quem, pouco importa.

(www.germinaliteratura.com)

B)
(dukechargista.com.br)

C)
       agora, na hora do aperto
       todo mundo quer ir na missa
       doar cesta básica, ajudar os pobres
       e blá blá blá
       quando tão de boa
       não querem nem saber
       só quero ver, só

(apreferenciaeminha.blogspot.com)

D)
(dukechargista.com.br)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Civilização Industrial

"No período medieval, entre os séculos V e XV, a vida de uma família camponesa que morasse em alguma região do sul da Europa pouco ou nada tinha a ver com a vida de uma família camponesa que habitasse o norte do mesmo continente. Isto se torna mais claro quando se investiga a economia da época: 'A família camponesa medieval não só produzia seus próprios produtos de consumo pessoal; construía também a própria casa; fabricava os próprios móveis e utensílios domésticos; fazia as próprias roupas. De fato, o camponês ia ao mercado, mas lá vendia tão somente os excedentes de sua produção. Deixando de visitá-lo, ele talvez comprometesse sua comodidade, no entanto, jamais a própria existência' (KAUTSKY, Karl. A Questão Agrária. 1986, p.17).
A partir da Revolução Industrial Inglesa (1764) isto se inverte; a existência passa a ser determinada pelo mercado: '[...] nossa vida diária é afetada permanentemente por algumas das duzentas companhias maiores' (HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 1981, p.267). Ao levantar-se, o indivíduo veste o uniforme; durante o café, bebe leite; ao escovar os dentes, usa creme dental; no emprego, senta-se diante de um computador; na rua, vê carros passando; durante o almoço, assiste ao telejornal; as três da tarde seu celular toca; pouco antes do fim do expediente, compra mais um maço de cigarros; na volta pra casa, vê um tênis na vitrine; já em casa, ouve música em um rádio; antes de dormir, toma banho em um chuveiro elétrico; antes de se deitar no colchão, tira os sapatos e apaga a lâmpada... Cada um dos itens sublinhados é produzido por cinco ou seis grandes empresas do respectivo ramo. Assim, mais do que um novo tipo de economia, tem-se um novo tipo de civilização, de caráter industrial."

[Extraído de: Diego Araújo da Rosa. Formação do Mercado Mundial e Aburguesamento. UNESC, 2010, p.11]

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Elemento Dinâmico do Capitalismo

Qual a empresa símbolo do sistema? Coca-cola, McDonald’s e, mais recentemente, Facebook, são opções fortes. Mas, é claro que a primeira delas é a mais poderosa. Não há no mundo indivíduo que ainda não tenha experimentado o ‘refrigerante preto com bolinhas de gás’. No entretanto, o valor agregado deste produto é baixo, isto é, a produção de coca-cola não é capaz de sustentar, por si só, o crescimento econômico de um país. O mesmo não acontece com a produção de automóveis. Por possuir uma série de elementos, tais como, pneu, vidro, poltrona, alumínio, o carro popular possui a capacidade de dinamizar a cadeia produtiva. Em outras palavras: “[...] como causa e conseqüência do crescimento e da ampliação da indústria automobilística, há uma aumento do mercado de produtos eletrônicos, metálicos, têxteis e outros produtos industriais importantes, bem como uma elevação violenta na construção residencial e da atividade de comércio” (pág. 444-445). Neste caso, levando-se em consideração que o crescimento econômico é o pressuposto essencial do capitalismo, pode-se dizer que a Coca-cola é o símbolo do sistema, pela força de sua propaganda e pela universalidade de sua imagem, e que o carro popular é o seu elemento de sustentação, pela sua capacidade dinamizadora.
Quem possui um automóvel, portanto, esta de acordo com tudo o que acontece, de bom e de ruim. Qual a sua posição?


[Trecho extraído de: HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico – Uma Perspectiva Crítica. 7° ed. Rio de Janeiro: Campus, 1981 (com adaptações)].

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Literatura Premiada

Desde de o princípio da existência humana que as comunidades parecem ter sido edificadas em torno dos indivíduos normais, excluindo ou negligenciando aqueles que se afastam do padrão. A escritora Regina Benitez, vencedora do I Concurso Josué Guimarães de Contos, realizado em 1988, foge à regra. Em seu texto, intitulado ‘Espelho’, ela descreve um personagem anormal que, em função de sua síndrome psicológica, não consegue desenvolver uma identidade própria, o que o leva a imitar os outros: “Tudo tão idêntico não podia continuar. Pensei em mudar de casa, de cidade, de país, mas sabia, ah! como sabia, que em qualquer lugar para onde eu fosse, virando uma rua, entrando num teatro, saindo de uma loja, lá estaria ela, a mesma roupa, os mesmos gestos, a mesma forma de olhar, as mesmas unhas de forma quadrada com esmalte cintilando em prata. Por certo ela apreciaria escritores como Truman Capote, Norman Mailer, Scott Fitzgerald. Seu ator preferido seria Robert Redford, amaria gatos, violetas e romãs. E ouviria Chopin, em tardes de chuva e Jazz, em geral, nas noites de inverno. Era horrível pensar que ela ia sempre optar pela solidão, acariciando neuroses vagamente presumíveis, tendo a ‘Rosa Púrpura do Cairo’ e ‘O Grande Gatsby’ sempre à mão para colocar no vídeo-cassete, nas horas em que precisava sonhar. E o mais terrível é que aos poucos, ela, a outra, me conhecia tão bem, que conseguia prever com alguma antecedência as minhas decisões, adivinhando as direções todas.
A senhora não acabou de passar por aqui?, indagava o rapaz da banca de revistas. Mas faz meia hora que lhe vendi o camarão, afirmava o homem da peixaria. Era sempre ela me antecedendo.
Achei que era inútil continuar naquela vida. Apesar de detestar armas, comprei o revólver e as balas. Eu precisava morrer. Decidi. Acho mesmo que tudo isto é uma forma de loucura, alguma neurose antiga que brotou desta forma. Isto tudo não é possível, eu me explicava.
Uma a uma coloquei as cápsulas no revólver, embora eu soubesse que apenas uma seria suficiente. Foi então que ouvi o estampido na casa em frente.
Há uma mulher morta aqui!, gritava alguém, cheio de angústia.
Fiquei horas olhando aquela agitação que se formou e aos poucos me senti estranhamente livre e feliz. Era novamente a dona de minhas direções.
Lentamente apanhei ‘O Grande Gatsby’ e liguei o vídeo-cassete. Era um daqueles momentos em que eu desejava sonhar.”

[BENITEZ, Regina. Espelho. In: Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães. Editora UPF, 1996. Páginas 12-13].

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Literatura Gaúcha

Moacyr Scliar foi um dos autores que mais escreveram sobre Porto Alegre. Ele documentou a comunidade judaica, a expansão imobiliária, o pequeno comércio e até mesmo os pontos folclóricos do sexo clandestino, como, em Os Voluntários: “Se não me engano, eu achava aquilo tudo muito interessante, muito bonito, mas, se estou bem lembrado, naquele momento eu pensava em outra coisa, pensava mesmo era em mulher. 1952? 1953? Em mulher. Só em mulher. E poderia pensar em outra coisa? Na Voluntários da Pátria?
Eu ajudava meu pai no bar até as sete, oito horas da noite, e então ia jantar. A esta hora os operários, os caixeiros, os funcionários já tinham ido para casa. De seus quartos nos velhos sobrados as mulheres começaram a emergir. Caminhavam lentamente, equilibrando-se nos altos saltos; ou então postavam-se nas esquinas, encostadas, à parede. Ou ficavam sentadas no interior de bares sombrios, os olhos reluzindo na semi-obscuridade. Aquilo regurgitava de mulheres. Um rápido exame da geografia sensual de Porto Alegre mostraria uma cidade ocupada por este amável exército. Na Pantaleão Telles, junto à ponte de pedra em que os Farrapos travaram furiosas batalhas. Um numeroso contingente entrincheirado nas casinhas da Cidade Baixa. Na Azenha, Cabo Rocha era um importante reduto. No Cristal, Mônica reinava solitária e esplêndida, com seu luxo, seu Quarto de Espelhos. Mas havia ainda lugares mais fantásticos: O Cabaré das Normalistas, onde, segundo a lenda porto-alegrense, as moças deixavam cair a máscara da inocência [...].
Delírio à parte, o principal contingente de mulheres estava no Centro, na Voluntários. Mulheres para todos os gostos e todos os preços, menos os que eu podia pagar.”

[Caderno Cultura. In: Jornal ZERO HORA, 24 de março, 2012, p.4]