quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Luta de Classes Atual

Hoje em dia até um garçom pode comprar um carro; celular e computador então, nem se fala. Quer dizer, a separação que havia entre ricos e pobres ou, usando os termos de origem, burgueses e proletários, já não é tão nítida: o trabalhador foi seduzido pela sociedade de consumo.
Neste contexto, em que situação se encontra a Teoria da Luta de Classes, concebida por Marx? Ela ainda é válida ou não faz mais sentido?
As duas coisas – é válida, entretanto, adquiriu um novo sentido. Em função do enorme conjunto de bens e serviços baratos e de acesso quase que irrestrito, a questão econômica deixou de ser o cerne. Como desdobramento, surgiram questões diversas, relativas às causas ou conflitos das novas "classes" ou dos novos nichos sociais que se desenvolveram sobre o plano econômico estabelecido.
São exemplos desta nova realidade, muito mais complexa, as demandas referentes a uma infinidade de bandeiras separadas: “homossexual, bissexual, travesti, transexual, drag queen, mulher, negro, mulato, pardo, branco, albino, idoso, índio, gordo, magro, anoréxico, bulímico, evangélico, umbandista, católico, cristão, islamita, judeu, muçulmano, batista, ortodoxo, protestante, budista, espírita, religioso, loira, feio, bonito, menor de idade, criança, adolescente, latinoamericano, procedente de país terceiromundista, japonês, chinês, coreano, mongol, tailandês, tibetano, indiano, norte-americano, afegão, iraniano, iraquiano, turco, basco, catalão, galego, sul italiano, português, argentino, mexicano, cubano, haitiano, guatemalteco, grego, protetor de animais, vegetariano, cigano, ativista político, congressista, candidato a cargo público, sacerdote, empregado doméstico, pobre, rico, classe média, sulista, nortista, nordestino, descendente de imigrante, imigrante, professor, amazônico, trabalhador assalariado, operário, trabalhador autônomo, comerciante ambulante, oriental, irlandês, palestino, israelita, africano, indiano, proveniente de baixas castas étnicas, ativista de movimentos sociais, camponês, agricultor, cadeirante, deficiente físico, deficiente mental, portador de síndrome de down, portador de síndromes diversas, diabético, portador de doença degenerativa ou outras doenças visíveis, portador de HIV, portador de doença infecto-contagiosa, estudante, estagiário, subordinado, aposentado, monarquista, republicano, democrata, direitista, esquerdista, conservador, arrojado, vanguardista, filiado a partido político, torcedor de time de futebol, prostituta, detento, ex-detento, artista, hippie, viciado ou usuário de drogas, alcoolista, usuário de anti-depressivo, usuário de ansiolíticos de todo o gênero, portador de síndrome do pânico, portadores de síndromes psicológicas, mendigo, morador de rua, morador de favelas e bairros operários, esportista, dona de casa, familiar de detento, familiar de ex-detento, familiar de político, familiar de doente mental, familiar de foragido da justiça, ciclista, motoqueiro, motorista, nerd, lutador etc.” ( Fonte da citação: devaneiosliterarios.blogspot.com.br).
A questão da luta de classes, portanto, não é mais uma questão somente de cunho econômico, uma mera disputa entre assalariado e patrão; ela se desdobrou e cresceu e, hoje, é tão multifacetária que, em sua tese atual, cabe até mesmo uma briga de escola ou um episódio virtual.

Há, porém, a contrapartida. Se, por um lado, a luta de classes se tornou mais abrangente, no sentido da pluraridade, por outro, seu poder de mobilização, no sentido de mudar o mundo, diminuiu. Antes, quando a sociedade era dividida entre proletários e burgueses, a luta propriamente dita, era global; bastava derrubar os "donos do poder" econômico e construir o comunismo. Hoje não - a causa agora é local e a luta, muitas vezes, excludente. Quem levanta a bandeira dos menores abandonados compete com quem defende os direitos homossexuais, e vice-versa; quem se mobiliza pela causa dos cachorros de rua compete com quem luta contra a violência no trânsito, e vice-versa. Em resumo, a consciência universal foi substituída por ideologias conflitantes.

8 comentários:

  1. Dentro das empresas ou, indo mais fundo, dentro de qualquer ambiente de trabalho, tanto privado quanto público, há disputa. Disputa pela promoção na carreira, disputa pela amizade do chefe, disputa por menos serviço, as vezes há disputa até pra ver quem é a mais bonita da repartição ou pelo melhor bocado de comida na hora do almoço. Não há união nenhuma entre os colegas de trabalho do mesmo setor, oxalá entre os trabalhadores do mundo inteiro!

    Como você diz, Diego, "a consciência universal foi substituída por objetivos separados".

    No fundo, os sindicatos só existem para melhorar as condições de trabalho das suas respectivas categorias - para um torneiro mecânico pouco importa que os seguranças ganhem mal.

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  2. A revolução, no caso, deveria ser também específica. Se a mobilização do mundo inteiro em torno de uma mesma causa, como pretendia Marx, não é possível ou, pelo menos parece não ser, a mobilização das tribos é um fato real.

    Lutar pelos interesses de um grupo, desde que estes interesses respeitem os direitos humanos, é melhor do que lutar apenas por interesses individuais. Em outras palavras: protestar contra a violência doméstica é um ato revolucionário, acumular patrimônio material é um ato egoísta.

    Você é um revolucionário ou um egoísta?

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  3. "A luta de classe é uma proposta com dois sentidos: enquanto os trabalhadores e outras classes exploradas lutam a partir de baixo, as classes dirigentes e os seus estados empenham-se na luta de classes a partir de cima para aumentar os seus lucros, produtividade e poder." (James Petras, In: Capitalismo e luta de classes. Artigo publicado em 2011)

    Para que esta luta seja democraticamente aceita, é necessário que a classe explorada se organize em termos políticos - sindicatos, ONG's, comunidades, partidos etc. A classe dominante, por sua vez, não necessita de organização, ela já vem pronta. Ela é a própria estrutura de poder - grandes empresas, Estado, mídia etc. Neste sentido, o enfrentamento, desde o princípio, é desigual.
    A anarquia, entretanto, é uma arma que o poderoso não possui. A desordem arrepia os cabelos da elite.

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    1. http://ousarlutar.blogspot.com.br/2012/11/loucos-numa-sociedade-mergulhada-na.html

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    2. A pauta é especifica, diria fragmentada. A mulher negra que luta contra o racismo e o machismo, deve entender que emancipação total passa pelo fim da mais valia.
      Em relação a ampliação da luta de classes , penso que não se pode restringir issso a patrões X assalariados e muito de menos ao economicismo. As massas pobres devem machar junto com a classe trabalhadora.

      Para enfrentar essa problematica ainda fico com uma frase da Rosa: "Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres".

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    3. O pensamento da Rosa Luxemburgo deixa bem clara a intenção daqueles que criticam o capitalismo: construir uma sociedade que seja para todos, sem distinção.

      A critica ao sistema vigente se faz sobretudo porque: “Se, por um lado, é admirável o seu potencial de criação de riqueza material, de progresso tecnológico e de bem-estar das nações, por outro, é assustador o seu intrínseco desprezo pelas condições particulares da existência dos povos e dos conteúdos da vida” (Luis Gonzaga Belluzzo).

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    4. Quer dizer, ao invés de riqueza externa, queremos riqueza interna.

      Viva o pensamento crítico!

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  4. A mobilização não é mais global, de fato, ela é específica. Desde a queda do Muro de Berlim (provavelmente desde muito antes) que não se pensa mais na derrubada do capitalismo - as condições históricas atuais, afinal, não permitem outro pensamento.
    Mas, há temas capazes de mobilizar o mundo inteiro, são eles: a paz e o meio-ambiente. E a internet, penso eu, seria o instrumento para isto.

    Mahatma Gandhi e John Lennon, ao meu ver, foram os dois últimos líderes de causas mundiais. O primeiro lutou pela libertação de seu país, a Índia, e indiretamente pela salvação do espírito humano; o segundo, fazendo uso de seu prestígio e popularidade no meio artístico, se mobilizou em torno do ideal "paz e amor".

    A organização política, democraticamente aceita ou anárquica, e a figura do líder, são elementos fundamentais para a efetivação das mudanças reivindicadas pela classe explorada.

    CIDADÃES DO MUNDO, UNI-VOS!

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