A
tragédia na boate de Santa Maria, com a morte de mais de duzentos e trinta
jovens, trouxe a tona o debate sobre a segurança nos ambientes de festa. O
poder público, como que despertado por mágica, saiu às ruas para vistoriar
casas de show, fechando, na semana seguinte à tragédia, milhares delas em todo
o país. O espetáculo, no caso, mobilizou o Estado. Do dia pra noite passou a
ser necessário o alvará de prevenção de incêndio. É como se a sociedade
estivesse esperando por uma alguma coisa - uma revelação interior, como diria
Sartre – para agir; foi espetacular.
Este episódio me fez recordar outro. Depois da passagem do furacão Sandy pelos EUA, uma brasileira, que no dia estava em Nova York, publicou fotos suas na internet, tendo como plano de fundo a catástrofe. Em seguida, algum internauta pegou a foto da brasileira e fez uma sátira, colocando a sua imagem no lugar do boneco pintado por Edvard Munch, em "O Grito". É como se a necessidade de se tornar notícia fosse a coisa mais importante do mundo; foi espetacular.
Este episódio me fez recordar outro. Depois da passagem do furacão Sandy pelos EUA, uma brasileira, que no dia estava em Nova York, publicou fotos suas na internet, tendo como plano de fundo a catástrofe. Em seguida, algum internauta pegou a foto da brasileira e fez uma sátira, colocando a sua imagem no lugar do boneco pintado por Edvard Munch, em "O Grito". É como se a necessidade de se tornar notícia fosse a coisa mais importante do mundo; foi espetacular.
Como
escreveu Guy Debord: "O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade,
a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da
sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência. Por ser
algo separado, ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência; a
unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação
generalizada" (In: A Sociedade do Espetáculo, Editora:
eBooKLibris, 2003, p.9). É exatamente isto: a separação
generalizada, a separação entre as pessoas que, atraídas pelo espetáculo, se
reúnem em torno da tragédia ou da notícia ou de qualquer outra coisa que lhes
desperte a atenção; se reúnem, mas nem por isto estão juntas, apenas têm a
impressão de estarem juntas, quando na verdade estão separadas por um imenso
abismo.
Os seres humanos da nossa época, parados como são, precisam de algo que os mobilize, que os faça agir, porque, pelas próprias forças, eles não são capazes, eles são vazios e não encontram motivação alguma dentro de si mesmos.
Os seres humanos da nossa época, parados como são, precisam de algo que os mobilize, que os faça agir, porque, pelas próprias forças, eles não são capazes, eles são vazios e não encontram motivação alguma dentro de si mesmos.
É o caso da personagem de Michael Houellebeq, em seu romance Extensão
do Domínio da Luta: "Na sexta-feira à noite, fui convidado para uma festa
na casa de um colega de trabalho [...]. Em certo momento, uma abobada começou a
despir-se. Tirou a camiseta, depois o sutiã, a saia, sempre fazendo volteios
inacreditáveis. Ainda girou sem calcinha durante alguns segundos. Enfim, não
vendo mais o que fazer, decidiu recobrir-se" (Editora: Sulina, 2011,
p.9).
Muito bom, Diego! Gostei muito do seu blog e concordo plenamente quando você diz que o ser humano por si só não encontra motivos para agir, falando da maioria. Acredito que as pessoas se escondem atrás de suas crenças e temores, e essas mesmas crenças e temores são o que fazem o ser humano querer ser alguém melhor. Não apenas por convicção e caráter, mas por uma força externa que o impulsiona. Falta reflexão e auto-conhecimento.
ResponderExcluirEu acho que falta uma referência, um líder, alguém que sirva de exemplo para os outros. Todos os dias um novo escândalo de corrupção, os artistas mais preocupados com as suas vaidades do que com a idéia de “mudar o mundo”, o papa renunciando – é isso que desmotiva! Sem uma referência o ser humano se volta cada vez mais pra si.
Excluirdois braços
ResponderExcluirduas pernas
dois olhos
vinte dedos
e só um cérebro
ta aí o erro.
(Gustavo Souza).
Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.
ResponderExcluirFeuerbach — Prefácio à segunda edição de “A Essência do Cristianismo”.