“Gênero literário muito praticado no Brasil,
consistindo num pequeno artigo sobre qualquer assunto, em tom coloquial,
procurando estabelecer como leitor uma intimidade afetuosa que o leva a se
identificar à matéria exposta”.
[CANDIDO, Antônio. Iniciação à Literatura
Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2007, p. 110-111]
“Um gênero literário, de prosa, ao qual
menos
importa o assunto, em geral efêmero, do que as
qualidades de estilo; menos o fato em si do que o pretexto ou a sugestão que
pode oferecer ao escritor para divagações borboleantes e intemporais; menos o
material histórico do que a variedade, a finura e a argúcia na apreciação, a
graça na análise dos fatos miúdos e sem importância, ou na crítica buliçosa de pessoas”.
[COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária.
Petrópolis: Vozes, 2008, p. 106]
Abaixo segue uma crônica premiada no VI Concurso Literário de Presidente Prudente, em 2012:
PODE, ARNALDO! (Maurício Fregonesi Falleiros)
Há muito ela desconfiava das atitudes do
marido. Ele, como todo homem, não convencia a mulher com suas desculpas mal
improvisadas:
– Isso são horas, Arnaldo?
– Desculpa, amorzinho. É que roubaram o carro do Paulão, então eu tive que dar
uma carona pra ele.
– Mas isso é motivo pra chegar às 2 horas da manhã?
– É que roubaram o meu carro também!
– Sei...
– Te juro! Aí eu e o Paulão tivemos que correr atrás do bandido, pegar o carro
de volta na marra e só depois eu levei ele embora. Que sufoco...
– E o carro do Paulão?
– Ah, ele tem seguro...
– Mas que aventura, hein? Ó, tem comida em cima do fogão, você esquenta. Eu vou
dormir.
E assim as desculpas se sucediam. Uma pior que a outra. Uma menos convincente
que a outra. Mas de uma coisa Agrinalda já tinha se convencido: o marido tinha
uma amante. Só faltava descobrir quem era a sirigaita.
Ela pensou em contratar um desses detetives bem canastrões, mas logo mudou de
ideia. Ela não era mulher de pagar detetive para vigiar o marido. Ela própria
iria colar no safado.
Em um dia aparentemente normal, uma
quarta-feira qualquer, Agrinalda estacionou o carro a uma quadra do trabalho de
Arnaldo. Esperou ele sair e, com muita discrição, saiu no encalço do marido.
Hoje era dia de festinha, ele não tomara o rumo de casa.
Pouco depois Arnaldo chegou ao destino. Aquela casa não era estranha para ela.
Quando a anfitriã botou a cara na rua, tudo ficou claro:
– A amante dele é a Suzy, a minha manicure? Eu não acredito. É traição dupla!
Agrinalda abaixou-se no banco do carro para não ser vista e se pôs a pensar. O que ela faria? Desceria do carro e das tamancas? Daria na cara dos gaiatos e pediria o
divórcio no meio da rua? Voltaria para casa e colocaria o marido contra a
parede?
No final das contas não fez nada disso. Preferiu voltar para casa e deixar tudo
como estava. Ninguém arrancava aquelas terríveis cutículas dos seus pés como a
Suzy.
Esperou o casal entrar e foi embora. Tinha horário marcado na sexta.
Mais uma definição:
ResponderExcluir“E, afinal, o que é a crônica? Trata-se do vôo livre da palavra, tão solta quanto na poesia, capaz de elevar o pensamento até os mais distantes confins, estabelecer os laços com a realidade ou se perder nas brumas da ficção, engajar-se às questões políticas ou se alienar nos domínios do amor, aprofundar-se na busca da verdade ou flutuar pelos imensos campos da dúvida. Ligada pelo cordão umbilical aos fatos do dia ou à época que se atravessa, ao momento histórico ou à situação eventual de uma comunidade, de um país, ao retrato de um instante qualquer na vida humana, filha do deus Khrónos (o tempo) por excelência, e por isso mesmo com a sua durabilidade abreviada pela transitoriedade intrínseca, a crônica pode subir tão alto a ponto de se tornar exemplar ou inalcançável. E, portanto, se eternizar”.
(GALVANI, Walter. Crônica – o vôo da palavra. Porto Alegre: Mediação, 2009, p. 18)
Outra:
ResponderExcluir“A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante o espetáculo da vida, as coisas, os seres”.
(COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 106)