quarta-feira, 13 de março de 2013

Teoria Literária - Crônica

“Gênero literário muito praticado no Brasil, consistindo num pequeno artigo sobre qualquer assunto, em tom coloquial, procurando estabelecer como leitor uma intimidade afetuosa que o leva a se identificar à matéria exposta”.
[CANDIDO, Antônio. Iniciação à Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2007, p. 110-111]

“Um gênero literário, de prosa, ao qual menos 
importa o assunto, em geral efêmero, do que as qualidades de estilo; menos o fato em si do que o pretexto ou a sugestão que pode oferecer ao escritor para divagações borboleantes e intemporais; menos o material histórico do que a variedade, a finura e a argúcia na apreciação, a graça na análise dos fatos miúdos e sem importância, ou na crítica buliçosa de pessoas”.
[COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 106]

Abaixo segue uma crônica premiada no VI Concurso Literário de Presidente Prudente, em 2012:

     PODE, ARNALDO! (Maurício Fregonesi Falleiros)

            Há muito ela desconfiava das atitudes do marido. Ele, como todo homem, não convencia a mulher com suas desculpas mal improvisadas:
            – Isso são horas, Arnaldo?
            – Desculpa, amorzinho. É que roubaram o carro do Paulão, então eu tive que dar uma carona pra ele.
            – Mas isso é motivo pra chegar às 2 horas da manhã?
            – É que roubaram o meu carro também!
            – Sei...
            – Te juro! Aí eu e o Paulão tivemos que correr atrás do bandido, pegar o carro de volta na marra e só depois eu levei ele embora. Que sufoco...
            – E o carro do Paulão?
            – Ah, ele tem seguro...
            – Mas que aventura, hein? Ó, tem comida em cima do fogão, você esquenta. Eu vou dormir.
            E assim as desculpas se sucediam. Uma pior que a outra. Uma menos convincente que a outra. Mas de uma coisa Agrinalda já tinha se convencido: o marido tinha uma amante. Só faltava descobrir quem era a sirigaita.
            Ela pensou em contratar um desses detetives bem canastrões, mas logo mudou de ideia. Ela não era mulher de pagar detetive para vigiar o marido. Ela própria iria colar no safado.
            Em um dia aparentemente normal, uma quarta-feira qualquer, Agrinalda estacionou o carro a uma quadra do trabalho de Arnaldo. Esperou ele sair e, com muita discrição, saiu no encalço do marido. Hoje era dia de festinha, ele não tomara o rumo de casa.
            Pouco depois Arnaldo chegou ao destino. Aquela casa não era estranha para ela. Quando a anfitriã botou a cara na rua, tudo ficou claro:
            – A amante dele é a Suzy, a minha manicure? Eu não acredito. É traição dupla!
            Agrinalda abaixou-se no banco do carro para não ser vista e se pôs a pensar. O que ela faria? Desceria do carro e das tamancas? Daria na cara dos gaiatos e pediria o divórcio no meio da rua? Voltaria para casa e colocaria o marido contra a parede?
            No final das contas não fez nada disso. Preferiu voltar para casa e deixar tudo como estava. Ninguém arrancava aquelas terríveis cutículas dos seus pés como a Suzy.
            Esperou o casal entrar e foi embora. Tinha horário marcado na sexta.

2 comentários:

  1. Mais uma definição:

    “E, afinal, o que é a crônica? Trata-se do vôo livre da palavra, tão solta quanto na poesia, capaz de elevar o pensamento até os mais distantes confins, estabelecer os laços com a realidade ou se perder nas brumas da ficção, engajar-se às questões políticas ou se alienar nos domínios do amor, aprofundar-se na busca da verdade ou flutuar pelos imensos campos da dúvida. Ligada pelo cordão umbilical aos fatos do dia ou à época que se atravessa, ao momento histórico ou à situação eventual de uma comunidade, de um país, ao retrato de um instante qualquer na vida humana, filha do deus Khrónos (o tempo) por excelência, e por isso mesmo com a sua durabilidade abreviada pela transitoriedade intrínseca, a crônica pode subir tão alto a ponto de se tornar exemplar ou inalcançável. E, portanto, se eternizar”.

    (GALVANI, Walter. Crônica – o vôo da palavra. Porto Alegre: Mediação, 2009, p. 18)

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  2. Outra:

    “A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante o espetáculo da vida, as coisas, os seres”.

    (COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 106)

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