quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Do que o mundo é feito?

Os físicos diriam que é feito de uma partícula elementar chamada de “bóson de higgs”; os políticos diriam que é feito de acordos; alguns economistas diriam que é feito de trabalho; os crentes diriam que é feito do “amor de Deus”. Enfim, as opiniões variam, não há uma verdade absoluta – tudo é relativo.
Entretanto, quando deixamos o alagado campo das ideologias e dos diferentes tipos de conhecimento para ingressarmos no firme terreno do consenso, constatamos que as opiniões variam na forma, mas que se parecem em essência: são idéias. Basta olhar em volta. Exemplos: a semana tem sete dias porque, segundo os cristãos, Deus construiu o mundo e, no domingo, descansou; dirigir e beber são práticas que não combinam, pois, de acordo com os cientistas, o álcool diminui os reflexos; a oferta não cria a sua própria demanda, por isso, dizem os keyneisianos, o crescimento da economia e, consequentemente, o bem-estar da população, dependem das “expectativas dos empresários”. As coisas que parecem ter surgido na Terra e na vida das pessoas como que por encanto, na verdade são o resultado de um processo que, no fundo, é uma ideia. Até o Estado, tal como o conhecemos hoje, é o resultado de um processo de reflexão: os reis e os sacerdotes feudais e absolutistas que na Idade Média se diziam “eleitos por Deus”, foram substituídos pelo “direito ao voto”.
Em última análise, o homem é um escravo do seu próprio pensamento, como diria Rousseau: “O primeiro que, tendo cercado um terreno, arriscou-se a dizer: ‘isso é meu’, e encontrou pessoas bastante simples para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade em que vivemos. Quantos crimes, guerras, mortes, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas (...), tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Fugi às palavras desse impostor (...) a terra não é de ninguém’” (p.84-85).

[ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo, Ática, 1989]

2 comentários:

  1. Quando Rousseau diz "com a criação da propriedade privada se estabelece um limite entre os homens", ele não diz, necessariamente, "isso é bom" ou "isso é ruim". Rousseau diz, apenas, que este limite acaba com a ideia de que "todos somos irmãos" e, a partir deste momento, o homem passa a existir pelo que possui.
    No âmbito da filosofia, este é o pecado original.

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  2. O mundo é feito de ideias, seu resultado,no entanto, é a pratica.

    "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo". (Marx).

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