sábado, 15 de fevereiro de 2014

Contra-a-corrente

Na Idade Média o homem comum não podia questionar o estabelecido, ele nascia pobre e era explorado, porque, segundo a ideologia da época, Deus quisera assim. O conhecimento, que poderia servir-lhe como fonte de inspiração para mudanças, era guardado a sete-chaves pelos detentores do poder e, deste modo, sem ter acesso às grandes obras de Sócrates e Platão, o homem comum agonizou durante séculos na mão de uma meia dúzia de mal-intencionados.  
Hoje os tempos são outros e, no entanto, a história se repete – o homem comum continua sem questionar. Ainda há opressão, é verdade – a mídia manipula, a Igreja manipula, a polícia bate, o Estado nem sempre é justo – entretanto, o acesso ao conhecimento não é mais restrito. Qualquer pessoa, seja ela quem for, tem acesso a livros. Marx, Webber, Darwin estão aí, para serem lidos. Só que ninguém lê.
O conforto material proporcionado pela sociedade de consumo tornou o homem medíocre – questionar pra quê? Muito mais fácil é seguir a corrente universal das coisas, “ser farinha do mesmo saco”.
Ferreira Gullar tinha uma visão menos ácida: “[...] também pode estar errado quem defende os valores consagrados e aceitos. Só que, em muitos casos, não há alternativa senão defendê-los. E sabem por quê? Pela simples razão de que a sociedade é, por definição, conservadora, uma vez que, sem princípios e valores estabelecidos, seria impossível o convívio social. Uma sociedade cujos princípios e normas mudassem a cada dia seria caótica e, por isso mesmo, inviável. Por outro lado, como a vida muda e a mudança é inerente à existência, impedir a mudança é impossível. Daí resulta que a sociedade termina por aceitar as mudanças, mas apenas aquelas que de algum modo atendem a suas necessidades e a fazem avançar”.

[GULLAR, Ferreira. Dialética da Mudança. Folha de São Paulo, 6 maio de 2012, p. E10]. 

Um comentário:

  1. Porque o homem comum prefere o conformismo: "[...] as certezas nos dão segurança e tranquilidade. Pô-las em cheque equivale a tirar o chão de sob nossos pés" (Ferreira Gullar).

    Quem puxaria o tapete de si mesmo?

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