sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ideologias Humanas

Há muitas ideologias soltas por aí, mas elas são legítimas? Ser cristão, por exemplo, significa o quê? Significa se casar e viver com a mesma pessoa até a morte, não roubar, não cometer adultério, trabalhar e ir pra casa, acordar cedo, descansar aos domingos, frequentar a igreja, amar ao próximo como a si mesmo, ler a Bíblia, enfim, “ser cristão” é muito mais do que estamos acostumados a ver por aí. Tudo bem. E ser comunista, o que significa? Significa pensar em revolução, adorar Chê Guevara e Fidel Castro, ler Marx, não consumir, literalmente, não beber coca-cola, não possuir conta em banco, não possuir carro, se associar a algum partido de extrema esquerda, enfim, “ser comunista” é muito mais do que estamos acostumados a ver por aí. Tudo bem. E ser burguês, o que significa? Significa montar uma empresa privada e contratar um monte de operários, pagando-lhes um salário de fome, o menor possível, e consumir tudo o que existe de bom e de melhor – roupas de marca, automóveis de luxo, jóias caras  – escutar música clássica, morar num palácio, falar três línguas e nunca se misturar com o povão, enfim, “ser burguês” é muito mais do que estamos acostumados a ver por aí. 
O que a gente vê por aí, na verdade, são meias-ideologias, são operários aburguesados, são comunistas conformados, são cristãos pecadores, enfim, o que a gente vê por aí não é legítimo, é uma enorme mistura de várias coisas. Hoje em dia o cristão se separa e casa de novo, o comunista anda de carro, o burguês escuta funk – as ideologias perderam a pureza, vivemos a hipermodernidade.

“A sensação de insegurança invadiu os espíritos; a saúde se impõe como obsessão das massas; o terrorismo, as catástrofes, as epidemias são regularmente notícia de primeira página. As lutas sociais e os discursos críticos não mais oferecem a perspectiva de construir utopias e superar a dominação. Só se fala em proteção, segurança, defesa das ‘conquistas sociais’, urgência humanitária, preservação do planeta. Em resumo, de limitar estragos”.

[LIPOVETSKY, Gilles. Os Tempos Hipermodernos]

Um comentário:

  1. "O que define a hipermodernidade não é exclusivamente a autocrítica dos saberes e das instituições modernas; é também a memória revisitada, a remobilização das crenças tradicionais, a hibridização individualista do passado e do presente. Não mais apenas a desconstrução das tradições, mas o reemprego dela sem imposição institucional, o eterno rearranjar dela conforme o princípio da soberania individual" (Lipovetsky).

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