As grandes ideias de consumo do século XX são
norte-americanas: o carro popular, o supermercado e o shopping center. Em
qualquer cidadezinha que se vá, em qualquer canto do mundo, se percebe que deu
certo – eles criaram e propagaram “o modo americano de viver”.
Não há fronteiras, o mudo inteiro aderiu. Você entra no
supermercado e escolhe o que quiser, paga com cartão ou dinheiro, tanto faz, e “se
preferir, entregamos em casa”, diz a atendente. No shopping, a mesma coisa, não
há problemas, não há trânsito, não há sol, não há chuva, não há pedintes, tudo
é perfeito, as vitrines expõem o melhor da moda, os banheiros são limpos, há
segurança, praça de alimentação, gente bonita, escada-rolante e, dobrando o
corredor, à direita, um carro à venda, no meio do salão. O vendedor se aproxima
e diz “ele pode ser seu”. Então, depois de se imaginar dirigindo a máquina, a
resposta “ele será meu” – você está apaixonado.
Agora nada mais importa – família, Deus, viagem de férias,
filhos, moral, ética – são questões secundárias, as ideias de consumo invadiram
a sua mente e se apropriaram do seu corpo e da sua alma. Só Marx consegue
explicar as causas disso: “[...] a forma madeira é alterada, ao fazer-se dela
uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material.
Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam
completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e
impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a outras mercadorias,
apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira
saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar”
[MARX, Karl. O Capital. Livro I, Volume I, Secção IV: O
Fetichismo da Mercadoria e o Seu Segredo]
Karl Marx via as mercadorias revestidas de um caráter misterioso, por duas razões. Primeiramente porque as mercadorias escondem nelas o trabalho humano, o que significa que o sapato ou bolsa que compramos carregam todas as relações sociais que se estabelecem no trabalho. Outra razão é que as pessoas trocam mercadorias e, nessa troca, tornam-se elas mesmas mercadorias sem perceber. É o que implica o processo de "coisificação" dos seres humanos que vivem na sociedade das mercadorias.
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