domingo, 23 de março de 2014

Todos contra Todos?

Vivemos em sociedade. Portanto, não somos indivíduos isolados, mas em relação, uns com os outros. Esta relação se dá através das instituições – Igreja, escola, família, governo, indústria, comércio. E todas estas instituições derivam da natureza humana? Depende do ponto de vista.
Thomas Hobbes acreditava que sim. Em sua obra, intitulada “Leviatã”, o filósofo faz uma análise completa do mundo em que vivemos, partindo do princípio de que tudo deriva do homem. Hobbes começa falando de uma suposta igualdade de forças: “[...] a natureza dos homens é tal que, embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloqüência ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios como eles próprios; porque vêem sua própria sabedoria bem de perto, e a dos outros homens à distância. Mas isto prova que os homens são iguais quanto a esse ponto, e não que sejam desiguais. Pois geralmente não há sinal mais claro de uma distribuição eqüitativa de alguma coisa do que o fato de todos estarem contentes com a parte que lhes coube”. Ou seja, a milhares de anos atrás, quando os homens eram selvagens (macacos) e disputavam a vida com leões e crocodilos, descobriram que, em conjunto, eram mais fortes e importantes que os selvagens das outras espécies e que, por este motivo, deveriam se reunir em sociedade. E assim foi feito. Então, a ameaça que antes vinha dos leões e crocodilos, agora passa a vir dos próprios homens: “Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins. Portanto se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos”. Em outras palavras, mesmo se organizando em sociedade para escapar dos perigos da selva, o serumano continuou competindo – não há paz, a guerra de todos contra todos é permanente: “E contra esta desconfiança de uns em relação aos outros, nenhuma maneira de se garantir é tão razoável como a antecipação; isto é, pela força ou pela astúcia, subjugar as pessoas de todos os homens que puder, durante o tempo necessário para chegar ao momento em que não veja qualquer outro poder suficientemente grande para ameaçá-lo. E isto não é mais do que sua própria conservação exige, conforme é geralmente admitido. [...] os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário,um enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito”.
Em resumo, a seleção natural das espécies fez do homem o seu animal por excelência. Então, percebendo que a aproximação era melhor do que o isolamento, o homem fundou a sociedade, não por amor ao próximo ou alegria, mas por instinto mesmo, por necessidade de escapar à morte violenta. E, sendo também violento em relação aos seus semelhantes, o homem fundou as instituições, estas, por sua vez, definiram as leis, que hoje nos regem.

[HOBBES, Thomas. Leviatã. Capítulo XIII – Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria]

Um comentário:

  1. "De modo que na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória. A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defendê-los; e os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome" (Hobbes).

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