Vivemos em sociedade. Portanto, não somos indivíduos
isolados, mas em relação, uns com os outros. Esta relação se dá através das
instituições – Igreja, escola, família, governo, indústria, comércio. E todas
estas instituições derivam da natureza humana? Depende do ponto de vista.
Thomas Hobbes acreditava que sim. Em sua obra, intitulada “Leviatã”,
o filósofo faz uma análise completa do mundo em que vivemos, partindo do princípio
de que tudo deriva do homem. Hobbes começa falando de uma suposta igualdade de
forças: “[...] a natureza dos homens é tal que, embora sejam capazes de
reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloqüência ou maior
saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios como eles próprios;
porque vêem sua própria sabedoria bem de perto, e a dos outros homens à distância.
Mas isto prova que os homens são iguais quanto a esse ponto, e não que sejam
desiguais. Pois geralmente não há sinal mais claro de uma distribuição
eqüitativa de alguma coisa do que o fato de todos estarem contentes com a parte
que lhes coube”. Ou seja, a milhares de anos atrás, quando os homens eram
selvagens (macacos) e disputavam a vida com leões e crocodilos, descobriram que,
em conjunto, eram mais fortes e importantes que os selvagens das outras
espécies e que, por este motivo, deveriam se reunir em sociedade. E assim foi
feito. Então, a ameaça que antes vinha dos leões e crocodilos, agora passa a
vir dos próprios homens: “Desta igualdade quanto à capacidade deriva a
igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins. Portanto se dois homens
desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos,
eles tornam-se inimigos”. Em outras palavras, mesmo se organizando em sociedade
para escapar dos perigos da selva, o serumano continuou competindo – não há
paz, a guerra de todos contra todos é permanente: “E contra esta desconfiança
de uns em relação aos outros, nenhuma maneira de se garantir é tão razoável
como a antecipação; isto é, pela força ou pela astúcia, subjugar as pessoas de
todos os homens que puder, durante o tempo necessário para chegar ao momento em
que não veja qualquer outro poder suficientemente grande para ameaçá-lo. E isto
não é mais do que sua própria conservação exige, conforme é geralmente admitido.
[...] os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo
contrário,um enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a
todos em respeito”.
Em resumo, a seleção natural das espécies fez do homem o
seu animal por excelência. Então, percebendo que a aproximação era melhor do
que o isolamento, o homem fundou a sociedade, não por amor ao próximo ou
alegria, mas por instinto mesmo, por necessidade de escapar à morte violenta.
E, sendo também violento em relação aos seus semelhantes, o homem fundou as
instituições, estas, por sua vez, definiram as leis, que hoje nos regem.
[HOBBES, Thomas. Leviatã. Capítulo XIII – Da condição
natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria]
"De modo que na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória. A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defendê-los; e os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome" (Hobbes).
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