Antes da invenção do carro popular (introduzido nos anos
1920, com o fordismo), o motor da economia norte-americana eram, basicamente,
os eletrodomésticos, a construção civil e os bens de consumo não-duráveis,
assim, as cidades mais afastadas dos grandes centros industriais não
prosperavam. Este impasse geográfico se desfez com a popularização dos
automóveis. No prefácio do livro “Seis Contos da Era do Jazz”, Breno Silveira
explica isto: “[...] agora, as pequenas cidades e lugarejos que antes
enlanguesciam ao sol ou em meio da neve, renasciam, brilhantes e coloridas,
pontilhadas de garagens, postos de gasolina, bancas de hot-dog, restaurantes,
casas de chá, hotéis e acampamentos para turistas”.
O mundo começava a materializar-se nos moldes como
conhecemos hoje e, por detrás do que se via, estava o mercado acionário.
Acreditava-se, piamente, que o investimento em ações era benéfico, tanto para
as pessoas quanto para as empresas, e seguro, ou seja, não era preciso pensar,
não era preciso duvidar, não era preciso entender, bastava apontar o dedo e
investir; então, o sujeito, rico ou pobre, pegava as suas economias e comprava
ações, como se comprasse pães numa padaria. Foi esta “riqueza canalizada” que
possibilitou o assustador crescimento econômico observado: “[...] o número de
carros de passageiros aumentou de 7 milhões para 23 milhões [somente nos EUA]
na década de 1920. Mais de 1 milhão de visitantes afluíram para ver o novo
Modelo A na sede da Ford em Nova York. A empolgação refletiu-se no mercado
acionário, onde o preço das ações da General Motors subiu mais de dez vezes
entre 1925 e 1928, um avanço tão rápido que pôs o mercado acionário na primeira
página dos jornais. Quando J.J. Raskob fez sua proposta para a riqueza
universal em agosto de 1929, salientou que um investimento de 10 mil dólares na
General Motors feito uma década antes teria rendido mais de 1,5 milhão de
dólares” (p.244-245).
[CHANCELLOR, Edward. Salve-se quem puder: uma história da
especulação financeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001]
Esta euforia não durou mais do que dez anos e, após a bonanza, seguiu-se a pior crise econômica da história do capitalismo, conhecida como "A Grande Depressão". O índice de desemprego, entre os norte-americanos, chegou a 12,5 milhões, no primeiro semestre do ano de 1933. Esta situação só veio a se normalizar em 1944, quando o índice voltou ao que fora em 1929, com 2 milhões de desempregados.
ResponderExcluirFrederick Allen descreveu o transe em que o americano médio caíra: "Ele visualizou os EUA livre da pobreza e do trabalho árduo. Viu uma ordem mágica erigida sobre a nova ciência e a nova prosperidade: estradas enxameando com milhões e milhões de automóveis, aviões escurecendo o céu, linhas de fios de alta-tensão transmitindo de colina em colina o poder de dar vida a milhares de máquinas poupadoras de trabalho, arranha-céus sobranceiros onde outrora havia aldeias, cidades enormes erguendo-se em grandes massas geométricas de pedra e concreto, rugindo com tráfego perfeitamente mecanizado - e homens e mulheres em trajes elegantes gastando o dinheiro que haviam ganho com sua excelente antevisão".
Era como se houvesse uma tendência comum, um desejo no qual várias pessoas pudessem tomar parte - o dinheiro como uma espécie de Deus.