domingo, 21 de setembro de 2014

Mercado acionário: poder materializador

Antes da invenção do carro popular (introduzido nos anos 1920, com o fordismo), o motor da economia norte-americana eram, basicamente, os eletrodomésticos, a construção civil e os bens de consumo não-duráveis, assim, as cidades mais afastadas dos grandes centros industriais não prosperavam. Este impasse geográfico se desfez com a popularização dos automóveis. No prefácio do livro “Seis Contos da Era do Jazz”, Breno Silveira explica isto: “[...] agora, as pequenas cidades e lugarejos que antes enlanguesciam ao sol ou em meio da neve, renasciam, brilhantes e coloridas, pontilhadas de garagens, postos de gasolina, bancas de hot-dog, restaurantes, casas de chá, hotéis e acampamentos para turistas”.
O mundo começava a materializar-se nos moldes como conhecemos hoje e, por detrás do que se via, estava o mercado acionário. Acreditava-se, piamente, que o investimento em ações era benéfico, tanto para as pessoas quanto para as empresas, e seguro, ou seja, não era preciso pensar, não era preciso duvidar, não era preciso entender, bastava apontar o dedo e investir; então, o sujeito, rico ou pobre, pegava as suas economias e comprava ações, como se comprasse pães numa padaria. Foi esta “riqueza canalizada” que possibilitou o assustador crescimento econômico observado: “[...] o número de carros de passageiros aumentou de 7 milhões para 23 milhões [somente nos EUA] na década de 1920. Mais de 1 milhão de visitantes afluíram para ver o novo Modelo A na sede da Ford em Nova York. A empolgação refletiu-se no mercado acionário, onde o preço das ações da General Motors subiu mais de dez vezes entre 1925 e 1928, um avanço tão rápido que pôs o mercado acionário na primeira página dos jornais. Quando J.J. Raskob fez sua proposta para a riqueza universal em agosto de 1929, salientou que um investimento de 10 mil dólares na General Motors feito uma década antes teria rendido mais de 1,5 milhão de dólares” (p.244-245).

[CHANCELLOR, Edward. Salve-se quem puder: uma história da especulação financeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001]

Um comentário:

  1. Esta euforia não durou mais do que dez anos e, após a bonanza, seguiu-se a pior crise econômica da história do capitalismo, conhecida como "A Grande Depressão". O índice de desemprego, entre os norte-americanos, chegou a 12,5 milhões, no primeiro semestre do ano de 1933. Esta situação só veio a se normalizar em 1944, quando o índice voltou ao que fora em 1929, com 2 milhões de desempregados.

    Frederick Allen descreveu o transe em que o americano médio caíra: "Ele visualizou os EUA livre da pobreza e do trabalho árduo. Viu uma ordem mágica erigida sobre a nova ciência e a nova prosperidade: estradas enxameando com milhões e milhões de automóveis, aviões escurecendo o céu, linhas de fios de alta-tensão transmitindo de colina em colina o poder de dar vida a milhares de máquinas poupadoras de trabalho, arranha-céus sobranceiros onde outrora havia aldeias, cidades enormes erguendo-se em grandes massas geométricas de pedra e concreto, rugindo com tráfego perfeitamente mecanizado - e homens e mulheres em trajes elegantes gastando o dinheiro que haviam ganho com sua excelente antevisão".

    Era como se houvesse uma tendência comum, um desejo no qual várias pessoas pudessem tomar parte - o dinheiro como uma espécie de Deus.

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