quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Je suis Charlie?

O mundo, ou pelo menos a parte ocidental dele, afirma que “todos somos Charlie”, com a intenção de nos sensibilizar com a tragédia, de nos fazer pensar. Sim, eu sou Charlie, mas a questão, no meu entendimento, é mais ampla do que isto.
Não se trata de um simples atentado terrorista, isolado no tempo e no espaço, mas de uma guerra entre civilizações diferentes, entre ideologias diferentes, entre culturas diferentes; se trata de um processo separatista que se alimenta de fatos históricos. Inclusive, de fatos históricos recentes. Em 2003 o Iraque foi invadido e devastado pelos norte-americanos e, de uma maneira ou de outra, por todos aqueles que assistiram ao massacre; na época, alegava-se que o ditador Saddam Hussein estava enriquecendo urânio para produzir armas de destruição em massa; então, invadiram o país, destruíram o país, derramaram o sangue de milhares de inocentes e, no final das contas, nenhuma bomba atômica foi encontrada. Na Líbia, em 2011, o mesmo processo – o ocidente, desta vez com a participação direta dos países europeus, derrubou mais um ditador, Muammar AL-Gaddafi, sob o pretexto de “preservar os civis” do horror; estima-se que a intervenção militar liderada por França, Reino Unido e EUA, tenha custado em torno de 4,6 bilhões de dólares, dinheiro suficiente para se construir mais de 15 mil escolas.
É claro que não sou a favor de caras como Hussein e Gaddafi, caras que viviam em palácios, que erguiam estátuas de si mesmos, que usavam mulheres como se fossem lenços descartáveis; sou contra estes sujeitos, mas, o que dizer dos métodos utilizados pelo ocidente para derrubá-los? Até a filosofia dos livros de auto-ajuda diz que “todo o mal que se pratica, volta”, e é justamente isto o que está acontecendo. O Atentado das Torres Gêmeas, os reféns que foram decapitados, o grupo "Estado Islâmico", o massacre no Charlie Hebdo, tudo isso não passa da contrapartida do que foi feito, tudo isso não é mais do que a vingança pelas famílias arruinadas, pelos inocentes mortos, pela moral ofendida.
Os franceses falam em “liberdade de expressão” – eu não concordo. Não acho que “debochar”, “tirar sarro”, “satirizar” ou sei lá o quê, seja uma coisa legal; penso que “liberdade de expressão” seja “dizer de uma maneira inteligente”, penso que “liberdade de expressão” seja equalizar e não expandir diferenças, penso que “liberdade de expressão” seja não responder ao ódio com mais ódio. Enfim, se os terroristas bombardeiam o ocidente, o ocidente bombardeia os terroristas; está escrito na própria Bíblia: “Não tenham piedade: exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (DEUTERONÔMIO 19:21).

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