O mundo, ou pelo menos a parte ocidental dele, afirma que “todos
somos Charlie”, com a intenção de nos sensibilizar com a tragédia, de nos fazer
pensar. Sim, eu sou Charlie, mas a questão, no meu entendimento, é mais ampla
do que isto.
Não se trata de um simples atentado terrorista, isolado no
tempo e no espaço, mas de uma guerra entre civilizações diferentes, entre
ideologias diferentes, entre culturas diferentes; se trata de um processo
separatista que se alimenta de fatos históricos. Inclusive, de fatos históricos
recentes. Em 2003 o Iraque foi invadido e devastado pelos norte-americanos e,
de uma maneira ou de outra, por todos aqueles que assistiram ao massacre; na
época, alegava-se que o ditador Saddam Hussein estava enriquecendo urânio para
produzir armas de destruição em massa; então, invadiram o país, destruíram o
país, derramaram o sangue de milhares de inocentes e, no final das contas,
nenhuma bomba atômica foi encontrada. Na Líbia, em 2011, o mesmo processo – o ocidente,
desta vez com a participação direta dos países europeus, derrubou mais um
ditador, Muammar AL-Gaddafi, sob o pretexto de “preservar os civis” do horror;
estima-se que a intervenção militar liderada por França, Reino Unido e EUA,
tenha custado em torno de 4,6 bilhões de dólares, dinheiro suficiente para se
construir mais de 15 mil escolas.
É claro que não sou a favor de caras como Hussein e
Gaddafi, caras que viviam em palácios, que erguiam estátuas de si mesmos, que
usavam mulheres como se fossem lenços descartáveis; sou contra estes sujeitos,
mas, o que dizer dos métodos utilizados pelo ocidente para derrubá-los? Até a
filosofia dos livros de auto-ajuda diz que “todo o mal que se pratica, volta”,
e é justamente isto o que está acontecendo. O Atentado das Torres Gêmeas, os
reféns que foram decapitados, o grupo "Estado Islâmico", o massacre no Charlie Hebdo,
tudo isso não passa da contrapartida do que foi feito, tudo isso não é mais do
que a vingança pelas famílias arruinadas, pelos inocentes mortos, pela moral
ofendida.
Os franceses falam em “liberdade de expressão” – eu não
concordo. Não acho que “debochar”, “tirar sarro”, “satirizar” ou sei lá o quê,
seja uma coisa legal; penso que “liberdade de expressão” seja “dizer de uma
maneira inteligente”, penso que “liberdade de expressão” seja equalizar e não
expandir diferenças, penso que “liberdade de expressão” seja não responder ao
ódio com mais ódio. Enfim, se os terroristas bombardeiam o ocidente, o ocidente
bombardeia os terroristas; está escrito na própria Bíblia: “Não tenham piedade:
exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”
(DEUTERONÔMIO 19:21).
"Olho por olho e o mundo acabará cego" (Gandhi).
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