terça-feira, 17 de março de 2015

Impeachment?

No último dia 15 de março o povo brasileiro foi às ruas para reivindicar, entre outras coisas, o fim da corrupção e o impeachment da presidenta Dilma. Foi bonito até; a cobertura televisiva narrava o fato com um tom grave, não sei se para aumentar a audiência ou para fortalecer o significado do protesto; em São Paulo, reduto da Direita, contaram-se mais de 1 milhão de pessoas.
No país recentemente se descobriu o maior esquema de corrupção da História; o PT, partido de Dilma, tem vários de seus membros envolvidos, exceto a própria presidenta. Este fato, associado à divisão política da nação – 48% dos eleitores votaram no candidato tucano – motivaram a passeata contra os ladrões; o manifesto que pedia o impeachment, no entanto, não se justifica. Por que derrubar alguém que foi democraticamente eleito? Por que derrubar alguém cuja conduta moral é idônea? Por que derrubar alguém que segurou a taxa de emprego durante a maior crise econômica dos últimos 70 anos? Não se justifica – é rancor. A oposição, aproveitando-se de um momento difícil do governo, tem instigado o povo contra a presidenta; o medo deles é que o mandato do PT se prolongue para além dos 16 anos, que irão terminar em 2018, pois, quando se fica longe do poder durante um período tão longo, perde-se muitos benefícios políticos, inclusive a possibilidade de roubar; o leitor, mesmo o que não for esperto, sabe do que eu estou falando, sabe que a corrupção não tem partido, sabe que, com impeachment ou sem, a roubalheira continuaria acontecendo; ninguém é burro, tudo é uma questão de matemática, se o PT é o investigado da vez é por que quase todos os cargos pertenciam ou pertencem ao PT, se pertencessem ao Partido Cristão ou ao Partido Verde, então os corruptos seriam os seus representantes; o câncer não se encontra na forma, mas na essência – é na educação moral da população brasileira que está enraizada a doença.
Mas este é um outro debate. Por hora basta dizer: o que a oposição faz agora – jogando o povo contra a presidenta sem medir consequências – é tão grave quanto o que alguns membros do PT fizeram ao se corromperem. 

3 comentários:

  1. As manifestações apoiaram-se em quatro pilares: corrupção; ideologia neoliberal (defesa de Estado mínimo); desejo tucano de um terceiro turno (inconformidade com o resultado das eleições) e antipetismo (alavancado pelo horror às suas políticas sociais e pela arrogância passado do PT, quando este fazia crer que era o paladino da ética e apontava o dedo para os demais). Evidentemente que sem a corrupção os demais pilares dessa obra não encontrariam base para tomar corpo.
    O antipetismo, porém, é tão forte que não houve sequer tentativa de empacotar as manifestações como uma recusa do modelo político atual com todos os partidos atolados no toma-lá-dá-cá. Ou alguém acredita mesmo que tenha partido limpo?

    (Juremir M. da Silva)

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  2. O simples se esconde por trás do complexo. A corrupção, que deve ser implacavelmente combatida e que atinge a maioria dos grandes partidos brasileiros, é um pretexto para a Direita Miami extravasar o seu ódio de classe contra o petismo e sua opção, em algum momento, pelos pobres, com o ProUni, Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família. Isso, de certa forma, já passou. O paradoxo é este: a Direita Miami e a mídia lacerdinha querem derrubar Dilma no exato momento em que ela está fazendo uma política de direita, tentando cortar benefícios trabalhistas, com ajuda de um ministro tucano na pasta da Fazenda.
    O ódio de classe é mais forte. A direita quer pegar um atalho para se livrar desses anos de petismo, de políticas assistencialistas, de classe C andando de avião, de não brancos ocupando bancos universitários e de mecanismos de contestação da falsa meritocracia da elite baseada numa competição entre ricos bem preparados e pobres sem preparação. O atalho atende pelo nome de impeachment. Este, quando não devidamente motivado, é só o apelido do golpe. A direita poderia estar contente contando os milhões que ganhou na era petista. O petismo fez um pacto com as elites: propôs governar no lugar dela, dando-lhe muito dinheiro e cargos importantes, em troca de migalhas para os pobres. A direita cansou disso.
    Não gosta de pobres em aeroportos. Quer governar ela mesma.

    (Juremir Machado da Silva)

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  3. Agora, se não se importar, tenho uma pequena sugestão. Você diz que sua manifestação é apartidária e contra a corrupção. Daí os pedidos de impeachment contra Dilma. Mas em uma manifestação com tanta gente contra a corrupção, fiquei procurando um cartaz sobre, por exemplo, a corrupção no metrô de São Paulo, com seus processos milionários correndo em tribunais europeus, ou uma mera citação aos partidos de oposição, todos eles envolvidos até a medula nos escândalos atuais, do mensalão à Petrobras, um “Fora, Alckmin“, grande timoneiro de nosso “estresse hídrico”, um “Fora, Eduardo Cunha” ou “Fora, Renan“, pessoas da mais alta reputação. Nada.
    Se você não colocar ao menos um cartaz, vai dar na cara de que seu “apartidarismo” é muito farsesco, que esta história de impeachment é o velho golpe de tirar o sujeito que está na frente para deixar os operadores que estão nos bastidores intactos fazendo os negócios de sempre.

    (Fernando Nogueira da Costa)

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