quinta-feira, 19 de julho de 2012

Economia Ideológica

Mesmo quando compartilham a mesma visão de como a economia funciona, os economistas com frequência divergem quanto ao peso que se deve atribuir aos diferentes objetivos. Em macroeconomia, por exemplo, alguns economistas desejam reduzir a desigualdade de renda mesmo que alguns dos meios necessários para alcançar essa meta, como a elevação dos impostos, tenham efeitos adversos sobre a atividade agregada. Outros acreditam que se deve aceitar essa desigualdade de renda e que é mais importante ter um alto nível de atividade agregada. Alguns economistas atribuem um peso maior ao combate às altas taxas de desemprego do que à luta contra a inflação, porque encaram o desemprego como um grande mal social. Outros, porém, acham mais importante combater a inflação, que consideram mais perigosa para a sociedade. Em geral estas discordâncias correspondem à divergências políticas.” (p.13-23)
             O que determina o rumo da política macroeconômica e, consequentemente, o destino de uma sociedade é, portanto, o argumento. O instrumental matemático, neste caso, seria relevante, uma vez que os números transmitem uma ‘verdade exata’. Influenciado por estas tendências, A. W. Phillips, em 1958, construiu um gráfico estatístico que estabelecia uma ‘relação inversa não linear’ entre os níveis de emprego e as taxas de inflação:

“Do ponto de vista da política econômica, a Curva de Phillips mostra que em muitos casos a redução do desemprego implica elevação dos salários monetários e, portanto, inflação; ou, ao contrário, uma política de combate a inflação (redução dos salários monetários) significa aumento da taxa de desemprego. Essa ‘concepção mecanicista’ da economia, ainda que antiga e posteriormente refutada pelos fatos, é muito tradicional. Muitas vezes ouvimos dizer que ‘se os juros diminuem, a economia aquece’ ou ‘se o câmbio se desvaloriza, as exportações aumentam’ ou, como supõe Phillips, ‘se o desemprego cai, a inflação sobe’.” (p.17)
Eu, particularmente, prefiro entender a economia a partir da chamada ‘estrutura de poder’. Ou seja, prefiro pensar que não existe uma lei geral ou uma lógica exata para se decidir qual o objetivo macroeconômico mais importante para a sociedade; penso que esta decisão esta, antes de tudo, relacionada a um jogo de interesses: quanto menor for o salário, maior será o lucro; uma taxa de juros elevada favorece os negócios do banqueiro; por meio da inflação (emissão monetária) os governantes podem confiscar parte importante da riqueza de seus cidadãos...

[Referência bibliográfica: LUQUE, Carlos Antônio; SCHOR, Sílvia Maria. Teoria Macroeconômica: Evolução e Situação Atual. In: Manual de Macroeconomia. (com adaptações)]

3 comentários:

  1. Boa tarde, Diego. Parabéns pelo post.

    A análise puramente técnica não existe em economia, há sempre, por detrás das interpretações, uma posição ideológica. Para se ter idéia, um dos fundamentos da Crise Econômica Global, iniciada em 2008 e que atualmente se concentra na Zona do Euro, se encontra nos 'complexos modelos matemáticos' - de impossível compreensão para a maioria das pessoas - usados pelos criadores dos produtos financeiros sintéticos para atrair investimentos, sob o argumento de que 'eram seguros, os números garantiam'. Deu no que deu.

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  2. Concordo com Doca Gomes quando ele disse que não existe uma economia puramente técnica, muitas vezes o que funciona em determinado país não funciona em outro. Os governantes dever sempre buscar melhor maneira na economia para melhorar a vida das pessoas, dando-lhes educação, saúde, segurança, trabalho, isto é, diminuindo a desigualdade social.

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    1. Se 'o que funciona em um determinado país não funciona em outro', então a busca do interesse individual não conduz necessariamente ao bem-comum, como pretendem os teóricos do liberalismo. É preciso que, em algum momento, haja intervenção política, no sentido de equalizar as diferenças.

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