sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Concursos Públicos

Ao comparar o método da Fundação CESGRANRIO com o da CESPE, fica nítido que um não se comunica com o outro. Na prova de economia do BNDES, aplicada em novembro de 2009 pela CESGRANRIO, para o cargo de Economista, caiu a seguinte questão:
Qual a política cambial adotada em 1994, logo após a introdução da nova moeda, o Real?
a) Taxa de câmbio flutuante;
b) Taxa de câmbio fixa;
c) Taxas de câmbio múltiplas e fixas;
d) Currency board;
e) Congelamento cambial.
O gabarito dá como correta a letra a, taxa de câmbio flutuante. No entanto, na prova de economia do MINISTÉRIO DA SAÚDE, aplicada em janeiro de 2010 pela CESPE, para o cargo de Economista, o gabarito, do tipo verdadeiro ou falso, dá como correta a questão: “Há consenso de que o sucesso do Plano Real está associado à existência da âncora cambial, em que havia uma taxa de câmbio fixa".
Como se vê, o método das bancas, muitas vezes, é mais decisivo do que o próprio conhecimento. Isto se dá porque a resposta correta não cabe dentro do reducionismo dos concursos públicos. Em referência ao tema, Luis Gonzaga Belluzzo e Júlio Gomes de Almeida dizem que: “A âncora foi, como é amplamente reconhecido, a estabilização da taxa de câmbio nominal, garantida por financiamento em moeda estrangeira e/ ou por um montante de reservas capaz de desestimular a especulação contra a paridade escolhida.” Ou seja, se a taxa de câmbio é nominal, dependendo do ponto de vista, ela tanto pode ser fixa quanto flutuante.
Em resumo, já não é mais necessário tentar entender o porquê nem o para quê, desde que se acerte a questão. É a memória se sobrepondo à capacidade de entendimento; é o mecanicismo se sobrepondo à relatividade; é o pensamento linear, duro, valendo mais que o pensamento crítico; é, em última análise, acreditar que existe uma resposta certa para todas as coisas.

[Trecho extraído do livro Depois da Queda. In: Plano Real: do sucesso aos impasses. Editora Civilização Brasileira, 2002. Página: 363].

3 comentários:

  1. Por isso que sou a favor das redações. Penso que elas são capazes de avaliar com mais amplitude a relatividade do conhecimento e a subjetividade de cada um.

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  2. Uma prova de concurso não diz exatamente o teu grau de conhecimento, pois existem muito fatores que influência na hora da prova, um dos fatores é o nervosismo, a cobrança que a pessoa cria entre outros tantos. Uma frase que aprendi é “Curso você faz até passar”, continue sempre estudando um dia chega a sua vez

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  3. Uma prova de concurso mede o grau de conhecimento que a pessoa possui em relação a determinado tema. Mas, porque é importante saber sobre este tema? Juremir Machado da Silva se refere ao assunto:

    Por que, dentro de cem anos, alguém terá de saber quem escreveu Harry Potter?
    Ou quem foi Paulo Coelho?
    Por que, hoje, alguém precisa saber quem é Dan Brown?
    Por que um candidato a vestibular de medicina precisa saber quem escreveu A pata da gazela?
    Por que é mais importante saber quem escreveu “A carne” do quem escreveu “Detalhes”?
    O conhecimento não é natural.
    Obviamente.
    É cultural.
    Os homens dizem o que é importante em cada época.
    Dizem de acordo com seus interesses e crenças.
    Por vezes, há, digamos, consenso ou algo parecido com isso.
    Na maioria das vezes, as escolhas arbitrárias de poucos determinam o imaginário de muitos.
    Questões de concurso servem, na maior parte do tempo, apenas para selecionar e eliminar candidatos no concurso.
    Poderia ser por sorteio.

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