quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Exercício de Cidadania


Muitas vezes a realidade social não agrada. Prostituição, violência, miséria – são facetas de um cotidiano que não queríamos que existisse. Mas, o que fazer?  Ou, seria o ‘fazer’ uma questão de livre-arbítrio? Para os que acreditam que tudo é uma opção individual, não haveria nenhuma ação que corrigisse isto, pois os marginalizados estariam agindo de acordo com a própria escolha. Neste caso, só um ‘relâmpago de consciência’, caído do céu, seria capaz de modificar, para o bem, a mentalidade destes sujeitos. Uma outra concepção de sociedade, menos reducionista, acredita no Estado como alternativa - por meio de políticas públicas de integração social, os governantes poderiam atenuar as graves distorções da nossa realidade.
Entretanto, em função dos sucessivos escândalos de corrupção, o povo deixou de acreditar na política como instrumento de obra social, passando, cada vez mais, a crer na ideia absurda de que as coisas irão se resolver sozinhas ou, simplesmente, que não se resolverão, sendo melhor deixar tudo como está e passar a viver como um verdadeiro indivíduo, pensando apenas em si mesmo.
Esta é uma posição egoísta, mas compreensível e muito comum. O que não ficou claro, contudo, é que ‘política’ é uma coisa e ‘político’ é outra e, também, que a cidadania é uma obrigação de cada um, tanto quanto a missa de domingo o é para a dona de casa. Em outras palavras, por detrás da ação pública devem sempre estar o governante e o povo, e não só o governante como é mais frequente.
Na Constituição Federal, encontra-se o seguinte: “Art. 6° São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade, à infância e a assistência aos desamparados”. Imagine, você, se todos, sem distinção de raça, credo ou classe, reivindicassem o cumprimento desta lei; imagine, você, se todos, negro ou branco, cristão ou ateu, rico ou pobre, passassem a se interessar pelo cumprimento desta lei do mesmo modo como se interessam por seus objetivos materiais; imagine, você, se todos, sem distinção, se mobilizasse da mesma maneira como se mobilizam pela compra de um carro ou por uma partida de futebol, quanto tempo levaríamos para construir uma sociedade verdadeiramente justa? Um dia?

[Trecho extraído da Constituição da República Federativa do Brasil. Edição Administrativa: Senado federal. Brasília, 2002. Página: 20].

5 comentários:

  1. O axioma democrático da igualdade perante a lei só tem sentido no pórtico dos cemitérios.

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  2. Bem pensado!

    A pratica da cidadania só adquire sentido se no seu horizonte estão os direitos de todos, a igualdade perante a lei e a defesa do bem comum.

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  3. Idéias de Rousseau a respeito da cidadania:

    - Definição de sociedade: "Mudar a natureza humana, transformar cada indivíduo, que por si mesmo é um todo perfeito e solitário, em parte de um todo maior, do qual de certo modo esse indivíduo recebe sua vida e seu ser; alterar a constituição do homem para fortificá-la; substituir a existência física e independente que todos nós recebemos da natureza, por uma existência parcial e moral.”

    - "Vós cidadãos, inteiramente absorvidos em vossas ocupações particulares e sempre indiferentes diante do resto, só cuidais do interesse público quando o vosso é atacado."

    - Não é possível, diz o filósofo, ao homem manter na vida em sociedade a unidade de seu ser e, ao mesmo tempo, pretender conservar na ordem civil a primazia dos sentimentos da natureza:
    “Aquele que, na ordem civil, quer conservar a primazia dos sentimentos da natureza, não sabe o que ele quer. Sempre em contradição consigo próprio, hesitando sempre entre suas inclinações e seus deveres, ele não será, jamais, nem homem, nem cidadão; não será bom nem para si nem para os outros. Será um desses homens de nossos dias; um francês, um inglês, um burguês; ele não será nada.”

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  4. Boa noite, querido Diego!
    A política vai sempre estar direta ou indiretamente na sociedade, influenciando na vida das pessoas, pois quando os políticos votam em uma determinada lei quem vai sofrer as conseqüências são as pessoas. Por isso devemos valorizar o nosso voto, pois quem colocar os políticos no poder é a população, e para esta mesma população estes políticos devem trabalhar.

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    1. Bom dia, Aninha.

      Se a sociedade também é política, ler a Constituição é tão importante quanto ler a Bíblia.

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