quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Riqueza das Nações

Adam Smith
Vivemos em uma sociedade onde as coisas estão inter-relacionadas de tal maneira que a atividade produtiva é específica. Isto é, quem produz arroz, vende arroz, e, com o dinheiro desta venda, compra todo o resto – sal, carne, automóvel, sapato, computador etc. Antigamente não era assim. Os índios primitivos, por exemplo, viviam isolados. O que uma aldeia produzia não era comercializado com a tribo vizinha, quer dizer, não havia relação de troca.  Nestas comunidades, portanto, a atividade produtiva era bem menos específica e estava muito mais relacionada à subsistência do que ao conforto. O contrário do que vivemos hoje.
Segundo Adam Smith, no entanto, a propensão humana à troca, conseqüência necessária das faculdades de raciocinar e de falar, conduziram estas comunidades primitivas umas às outras. (De acordo com este ponto de vista, a História não seria mais do que o “processo natural das coisas” – um mundo que, por si só, evolui para o melhor estágio possível).
Essa propensão à troca, inerente ao homem, seria o princípio gerador da divisão do trabalho. Este, por sua vez, seria uma das causas fundamentais da materialidade da nossa época: “Numa fábrica de alfinetes, um operário não treinado para essa atividade nem familiarizado com a utilização de máquinas ali empregadas, dificilmente poderia talvez fabricar um único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de qualquer forma não conseguiria fabricar vinte. Entretanto, da forma como esta atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior parte também constitui provavelmente um ofício especial. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas. Vi uma pequena manufatura deste tipo, com apenas 10 operários, e na qual alguns desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embora não fossem muito hábeis, e portanto não estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, quando se esforçavam, em torno de 48 mil alfinetes por dia. Pode-se, mesmo, considerar que, em função da divisão do trabalho, cada um destes 10 operários produzia 4.800 alfinetes em uma única jornada”.

[SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Editora Abril Cultural, 1983. Páginas 42-43].

5 comentários:

  1. É com o advento da Revolução Industrial (1764), quando a máquina superar o trabalho humano, que a divisão do trabalho se intensifica ao grau que conhecemos hoje. Deste fato deriva a materialidade da nossa época.

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    1. Completando o raciocínio:

      Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo.
      Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro.

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  2. Boa noite, querido Diego!
    A Revolução Industrial foi um grande marco na História, pois o trabalho deixou de ser artesanal e passou a ser assalariado e com máquinas. Mas com isso veio consequências sérias para os trabalhadores assalariados. Uma delas é a escravidão dos trabalhadores, com jornadas de trabalho mais de 16 horas diarias, mulheres e crianças trabalhando e salarios muito baixos, sem proteções individuais e coletivas, com isso gerou muitos acidentes como também doenças originadas do trabalho. Podemos ver muito bem isso no filme Tempos Moderno do gênio Charles Chaplin.

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    1. Conclui-se, portanto, que o progresso material da humanidade, principalmente o que se observou a partir de Revolução Industrial (1764), foi bom, sobretudo, para quem não dependia de um salário para viver.

      Concordo: o filme Tempos Modernos retrata bem esta situação.

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  3. Adam Smith (1723-1790) é o pai da economia moderna, e é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico.

    A obra Riqueza das Nações popularizou-se pelo uso da expressão "mão invisível" do mercado. Segundo o autor os agentes econômicos atuando livremente chegariam a uma situação de eficiência, dispensando assim a ação do Estado para esse efeito.

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