sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Literatura Moderna

Para um mundo de realidades diferentes, o texto deve ser flexível. O morador de uma comunidade carente jamais se identificará com um enredo burguês, a não ser que a criatividade do literato consiga imaginar um ponto de encontro, ou seja, uma forma de aproximar estes mundos antagônicos, ao invés de separá-los ainda mais.
Há, geralmente, diferença de escolaridade entre um morador de uma favela e um morador de um condomínio de luxo. Logo, o segundo esta mais ambientado do que o primeiro a uma linguagem padrão-culta. No entanto, quando se comunicam, as pessoas, pobres ou ricas, brancas ou negras, cristãs ou atéias, utilizam-se de uma linguagem mais prática, que ultrapassa as diferenças de escolaridade.
Na Literatura Brasileira, este ponto de encontro se deu com o Modernismo. O poema “Poética”, de Manuel Bandeira, explica a mudança:

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente, [protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o [cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas!

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos palhaços de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Antes disto, os poemas eram calculados.

(Fragmento extraído da página 207 do livro Libertinagem)

5 comentários:

  1. Eu escrevo leigamente, talvez o leigos me leiam. Nunca aprendi a calcular poesia e versos, e nem quis. Meu versos são livres e donos de si...

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    1. Também sou adepto destas tendências.

      A linguagem livre (coloquial) é utilizada no cotidiano onde não se exige a observância total da gramática, de modo que haja mais fluidez na comunicação feita.

      A poesia "calculada" é mais difícil de assimilar, não se entrega de primeira e, o que é pior, muitas vezes privilegia a forma em detrimento do conteúdo. Um exemplo:

      Velhas árvores


      Olha estas velhas árvores, — mais belas,
      Do que as árvores mais moças, mais amigas,
      Tanto mais belas quanto mais antigas,
      Vencedoras da idade e das procelas . . .

      O homem, a fera e o inseto à sombra delas
      Vivem livres de fomes e fadigas;
      E em seus galhos abrigam-se as cantigas
      E alegria das aves tagarelas . . .

      Não choremos jamais a mocidade!
      Envelheçamos rindo! envelheçamos
      Como as árvores fortes envelhecem,

      Na glória da alegria e da bondade
      Agasalhando os pássaros nos ramos,
      Dando sombra e consolo aos que padecem!

      (Olavo Bilac)



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  2. Concordo plenamente quando no texto diz que a literatura moderna é uma ponte que liga as pessoas cultas com pessoas não tão cultas, mas acham no gosto pela literatura algo que as prendem, que as transportam para um mundo espetáculo, que você ri ou chora com o poder das palavras.

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    1. Aproximar as pessoas é importante. Neste sentido a literatura cumpre um papel social.

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  3. Um outro poema que explica esta necessidade de se criar uma linguagem mais flexível:

    Pronominais

    Dê-me um cigarro
    Diz a gramática
    Do professor e do aluno
    E do mulato sabido
    Mas o bom negro e o bom branco
    Da Nação Brasileira
    Dizem todos os dias
    Deixa disso camarada
    Me dá um cigarro

    (Oswald de Andrade)

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