Para um mundo de realidades diferentes, o texto
deve ser flexível. O morador de uma comunidade carente jamais se identificará
com um enredo burguês, a não ser que a criatividade do literato consiga
imaginar um ponto de encontro, ou seja, uma forma
de aproximar estes mundos antagônicos, ao invés de separá-los ainda mais.
Há, geralmente, diferença de escolaridade entre
um morador de uma favela e um morador de um condomínio de luxo. Logo, o segundo
esta mais ambientado do que o primeiro a uma linguagem padrão-culta. No
entanto, quando se comunicam, as pessoas, pobres ou ricas, brancas ou negras,
cristãs ou atéias, utilizam-se de uma linguagem mais prática, que ultrapassa as
diferenças de escolaridade.
Na Literatura Brasileira, este ponto
de encontro se deu com o Modernismo.
O poema “Poética”, de Manuel
Bandeira, explica a mudança:
Estou farto do
lirismo comedido
Do lirismo bem
comportado
Do lirismo
funcionário público com livro de ponto expediente, [protocolo e manifestações
de apreço ao sr. diretor
Estou farto do
lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o [cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas!
Quero antes o
lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e
pungente dos bêbados
O lirismo dos
palhaços de Shakespeare
- Não quero mais
saber do lirismo que não é libertação.
Antes disto, os poemas eram calculados.
(Fragmento extraído da página 207 do livro Libertinagem)
Eu escrevo leigamente, talvez o leigos me leiam. Nunca aprendi a calcular poesia e versos, e nem quis. Meu versos são livres e donos de si...
ResponderExcluirTambém sou adepto destas tendências.
ExcluirA linguagem livre (coloquial) é utilizada no cotidiano onde não se exige a observância total da gramática, de modo que haja mais fluidez na comunicação feita.
A poesia "calculada" é mais difícil de assimilar, não se entrega de primeira e, o que é pior, muitas vezes privilegia a forma em detrimento do conteúdo. Um exemplo:
Velhas árvores
Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .
Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
(Olavo Bilac)
Concordo plenamente quando no texto diz que a literatura moderna é uma ponte que liga as pessoas cultas com pessoas não tão cultas, mas acham no gosto pela literatura algo que as prendem, que as transportam para um mundo espetáculo, que você ri ou chora com o poder das palavras.
ResponderExcluirAproximar as pessoas é importante. Neste sentido a literatura cumpre um papel social.
ExcluirUm outro poema que explica esta necessidade de se criar uma linguagem mais flexível:
ResponderExcluirPronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(Oswald de Andrade)