quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Mundo Visto de Cima

Em 1966 o poeta brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna ao visitar o Empire State Building, que na época era o maior edifício do mundo, se encantou com o que viu e, em função da inspiração suscitada, criou um conjunto de poemas que reproduzirei aqui, juntamente com as fotos do francês Yann Arthus-Betran que, em sua busca por um ângulo diferente, retratou minas de carvão, cemitérios e até viadutos, de cima. 


Este edifício, não resta dúvida:
é o mais alto. O mais alto do mundo,
talvez,
o mais alto-talvez do mundo,
o mais alto do mundo-talvez,
este edifício é um concreto talvez,
o mais concreto-talvez do mundo,
o concreto mundo,
o mundo mais
ou menos
                     talvez,
o tallest do mundo,
o pênis maior do mundo.
Este edifício
o mais edifício,
edifício entre edifícios,
edifício dentro de edifícios,
edificientíssimo.


3.500 milhas de fios telefônicos,
6.500 janelas,
1.860 degraus desde o solo até o 102° andar,
toneladas de aço suficiente para ligar Baltimore à New York
ida e volta,
um milhão de visitantes por mês,
uma das oito maravilhas do mundo,
- a única construída no século XX,
- neve e chuva podem ser vistas caindo lá de cima,
a chuva, às vezes, é vermelha.


Este edifício é tão alto
que se vê o Hudson e o East River circulando,
embora não se leia o nome dos cargueiros
nem se saiba o que e quem transportam.
É tão alto
que até o estrangeiro lá de cima se orgulha com 
orgulho alheio,
mas não é tão alto que nos possa esconder
dos cogumelos e outros derivados da cozinha atômica.

2 comentários:

  1. Os Olhos

    Certo dia os olhos disseram:
    - Além destes vales
    vejo uma formosa montanha
    envolta num manto azul de névoa.
    Não é mesmo bonita?

    Os Ouvidos, escutaram isto
    e, prestando atenção, disseram:
    - Mas onde está essa montanha?
    Não a ouvimos.

    Falou depois a Mão e disse:
    - Em vão procuro tocar ou sentir
    a montanha;
    não encontro montanha nenhuma.

    O Nariz disse:
    - Não há tal montanha;
    não a cheiro.

    Os Olhos voltaram-se para outro lado;
    e todos começaram a murmurar
    sobre tão estranha alucinação.

    E diziam:
    - Alguma coisa corre mal
    nesse Olhos

    (Gibran)

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