domingo, 15 de setembro de 2013

Diálogos

Fernando Nogueira da Costa é doutorado em Economia, é professor da Unicamp, foi vice-presidente de Finanças e Mercados de Capitais da Caixa Econômica Federal, entre outras coisas, e, atualmente, além de lecionar, edita o blog Cidadania & Cultura. Em uma das visitas que fiz à sua página na internet, deixei um comentário que gerou uma resposta que gerou outra resposta e, assim, se estabeleceu um diálogo.
FERNANDO: Querem Deus a seu lado e acreditam que estão a serviço dele – o que é isso, senão uma forma extrema de idealismo? Os crentes partem da conclusão para a prova.
DIEGO: Eles dizem “eu não participo deste sistema de coisas” e, no entanto, seus filhos frequentam a escola (o estabelecimento de ensino não é uma representação política da sociedade?). Enfim, penso que existem três hipóteses contra a Bíblia: os fósseis de dinossauros, a Teoria da Evolução (homem – macaco) e o homossexualismo (como fator psicossocial). Entretanto, se a religião não é importante do ponto de vista político-científico, ela é importante principalmente no momento da morte, quando o indivíduo perde a mãe, por exemplo.
FERNANDO: Confesso que não entendi o argumento da escola e nem o do homossexualismo. O último diz respeito à religião como consolo, não? Quanto às “hipóteses contra a Bíblia”, é necessário entender o que ela é. “Como as obras de Homero, a Bíblia hebraica (Antigo Testamento) é ambientada em fins do segundo milênio AEC (Antes da Era Comum), mas foi escrita mais de 500 anos depois. Em contraste com as obras de Homero, porém, a Bíblia é venerada hoje por bilhões de pessoas que a consideram sua fonte de valores morais. (…) Estudiosos modernos da Bíblia concluíram que ela foi um trabalho colaborativo nos moldes da nossa Wikipédia. Ela foi compilada no decorrer de 1/2 milênio por escritores que tinham diferentes estilos, dialetos, nomes de personagens e concepções de Deus, e então montada a esmo, o que a deixou repleta de contradições, duplicações etc.” (Steven Pinker, 2013: 42).
“Obviamente, não existem evidências diretas de coisa alguma que Jesus teria dito ou feito. As palavras atribuídas a Jesus foram escritas décadas depois de sua morte, e a Bíblia cristã, como a hebraica, é crivada de contradições, histórias sem confirmações e óbvias invenções. Enfim, se uma nos permite vislumbrar os valores de meados do primeiro milênio antes da Era Comum, a Bíblia cristã nos revela muita coisa sobre os dois primeiros séculos da Era Comum.” (Steven Pinker; 2013: 43).
Cabe essas obras antigas servirem como parâmetros para os valores de hoje?!
DIEGO: Com o argumento da escola eu quis traçar uma linha entre a prática e a teoria. Em outras palavras, na cidade onde eu moro é muito comum que religiosos preguem, nos domingos pela manhã, de casa em casa. Então, educadamente, eu os recebo. Eles dizem “Deus é o caminho e tudo esta na Bíblia”, e não aceitam nenhuma ideia que os contrarie. Quando a gente diz “eu li Marx, eu li fulano de tal”, eles respondem “tudo é filosofia vã”. O que é tranquilamente questionável: se eu não conheço os diferentes pontos de vista, como posso saber o que é a verdade?. Por fim, eles dizem que política não serve pra nada e que eles não se envolvem com política. Porém, eles próprios possuem carros e os filhos deles frequentam a escola e possuem perfis no Facebook. Carro, escola e Facebook não são manifestações políticas da sociedade? As ruas, por onde eles caminham, as roupas que eles vestem, a vida deles inteirinha não é uma manifestação política e histórica? No fundo, esses sujeitos participam sim deste sistema de coisas, só que não sabem.
O argumento do homossexualismo se refere a contemporaneidade desta manifestação. “É o que existe de mais original no século XX e XXI” – eu ouvi em algum lugar. Enfim, existe uma explicação científica para o homossexualismo. Uns dizem que é genético, outros dizem que é psicológico, um terceiro grupo diz que é social. Por exemplo, rapazes criados sem a presença do pai tem uma probabilidade maior de se tornarem gays. Entretanto, no livro de Gênesis, está escrito que Deus criou a mulher para que o homem não ficasse sozinho, não se fala, por exemplo, da possibilidade de pessoas do mesmo sexo se relacionarem. Entende? Porque é “errado” se é uma manifestação da natureza, assim como o nascimento o é?
FERNANDO: Entendi. Apenas quanto ao homossexualismo, veja o que a Wikipédia informa. “Ao longo da história da humanidade, os aspectos individuais da homossexualidade foram admirados, tolerados ou condenados, de acordo com as normas sexuais vigentes nas diversas culturas e épocas em que ocorreram. Quando admirados, esses aspectos eram entendidos como uma maneira de melhorar a sociedade; quando condenados, eram considerados um pecado ou algum tipo de doença, sendo, em alguns casos, proibidos por lei”.

Um comentário:

  1. Gostaria de deixar claro que não sou contra o ponto de vista religioso, apenas critico o reducionismo que pretende separar as coisas dizendo "ele não frequenta igreja, portanto não é filho de Deus". Por outro lado, sou admirador do Papa francisco, de Gandhi, de Madre Teresa de Calcutá, de Jesus... e penso que é religião é importante para a vida das pessoas e para o futuro do mundo.

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