domingo, 8 de setembro de 2013

Neocolonialismo

O mundo, em termos 
absolutos, é rico. Em termos relativos, porém, nem tanto. Quando comparamos a Nigéria ou a Costa do Marfim com os EUA percebemos isto: um imenso abismo econômico-financeiro. Mas, e se a riqueza do mundo fosse dividida igualmente entre os povos? Então cada país seria uma Espanha ou, no mínimo, uma Argentina – isto é, um lugar decente e, de certa forma, confortável para se viver.
Diante disto, a pergunta: porque umas nações se deram tão bem e outras se deram tão mal? Há duas respostas. A primeira esta relacionada aos méritos; os japoneses são disciplinados, os norte-americanos são competitivos, os alemães são rígidos e persistentes, enquanto que os brasileiros são preguiçosos, os russos são alcoólatras, os indianos são relaxados; até pode ser. A segunda resposta, por sua vez, é mais reveladora e importante, e esta relacionada à pilhagem, ao roubo e à trapaça. “Uma única bolsa de pimenta valia, na Idade Média, mais do que a vida de um homem, mas o ouro e a prata eram as chaves que o Renascimento empregava para abrir as portas do paraíso no céu e as portas do mercantilismo capitalista na terra [...]. Os indígenas foram completamente exterminados nas lavagens de ouro, na terrível tarefa de revolver as areias auríferas com a metade do corpo mergulhada na água, ou lavrando os campos até a extenuação, com as costas dobradas sobre os pesados instrumentos de aragem trazidos da Espanha. Muitos indígenas da Ilha Dominicana antecipavam-se ao destino imposto por seus novos opressores brancos: matavam seus filhos e se suicidavam em massa” (p.12).
A exploração foi mudando de forma. No século XVIII, por exemplo, os teórico burgueses do liberalismo econômico diziam que o livre-comércio traria benefícios iguais para todos – assim, os países com “vocação” agrícola deveriam se especializar na agricultura, e comprar os produtos industrializados da Europa. Hoje, Brasil e Argentina produzem milho e soja, EUA e Alemanha produzem carro e computador. Quem leva vantagem?
A sociedade é o resultado da História que, por sua vez, é o resultado das relações de poder. E pelo que se vê, a pilhagem de um pelo outro não tem fim. Vazou a informação de que os países do mundo estariam sendo espionados pelos norte-americanos. Com a desculpa do “combate ao terrorismo” eles interceptavam telefonemas e e-mails confidenciais de presidentes, empresários, cientistas, enfim, de todo mundo e, desta forma, auferiam vantagens de todos os tipos, sobretudo comerciais.
Até quando seremos surrupiados? Até quando prevalecerá este capitalismo sujo? Até quando você continuará bebendo Coca-cola, comendo McDonald’s e mexendo no Facebook, ou seja, levando a vida que eles [os donos do poder] querem que você leve?

[GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 201 páginas].

Um comentário:

  1. Sobre o capitalismo: "Se, por um lado, é admirável o seu potencial de criação de riqueza material, de progresso tecnológico e de bem-estar das nações, de outra parte, é assustador o seu inerente desprezo pelas condições particulares da existência dos povos e pelos conteúdos da vida" (Luis Gonzaga de Mello Belluzzo).

    Características desta nova faceta do neocolonialismo: é cyber, ou seja, utiliza-se da internet, e tem por objetivo único a ampliação dos mercados de consumo dos dominadores e a busca de matéria-prima a baixo custo.

    ResponderExcluir