O mundo,
em termos
absolutos, é rico. Em termos relativos, porém, nem tanto. Quando
comparamos a Nigéria ou a Costa do Marfim com os EUA percebemos isto: um imenso
abismo econômico-financeiro. Mas, e se a riqueza do mundo fosse dividida
igualmente entre os povos? Então cada país seria uma Espanha ou, no mínimo, uma
Argentina – isto é, um lugar decente e, de certa forma, confortável para se
viver.
Diante
disto, a pergunta: porque umas nações se deram tão bem e outras se deram tão
mal? Há duas respostas. A primeira esta relacionada aos méritos; os japoneses
são disciplinados, os norte-americanos são competitivos, os alemães são rígidos
e persistentes, enquanto que os brasileiros são preguiçosos, os russos são
alcoólatras, os indianos são relaxados; até pode ser. A segunda resposta, por
sua vez, é mais reveladora e importante, e esta relacionada à pilhagem, ao
roubo e à trapaça. “Uma única bolsa de pimenta valia, na Idade Média, mais do
que a vida de um homem, mas o ouro e a prata eram as chaves que o Renascimento
empregava para abrir as portas do paraíso no céu e as portas do mercantilismo
capitalista na terra [...]. Os indígenas foram completamente exterminados nas
lavagens de ouro, na terrível tarefa de revolver as areias auríferas com a
metade do corpo mergulhada na água, ou lavrando os campos até a extenuação, com
as costas dobradas sobre os pesados instrumentos de aragem trazidos da Espanha.
Muitos indígenas da Ilha Dominicana antecipavam-se ao destino imposto por seus
novos opressores brancos: matavam seus filhos e se suicidavam em massa” (p.12).
A
exploração foi mudando de forma. No século XVIII, por exemplo, os teórico
burgueses do liberalismo econômico diziam que o livre-comércio traria
benefícios iguais para todos – assim, os países com “vocação” agrícola deveriam
se especializar na agricultura, e comprar os produtos industrializados da
Europa. Hoje, Brasil e Argentina produzem milho e soja, EUA e Alemanha produzem
carro e computador. Quem leva vantagem?
A
sociedade é o resultado da História que, por sua vez, é o resultado das
relações de poder. E pelo que se vê, a pilhagem de um pelo outro não tem fim.
Vazou a informação de que os países do mundo estariam sendo espionados pelos
norte-americanos. Com a desculpa do “combate ao terrorismo” eles interceptavam
telefonemas e e-mails confidenciais de presidentes, empresários, cientistas,
enfim, de todo mundo e, desta forma, auferiam vantagens de todos os tipos,
sobretudo comerciais.
Até
quando seremos surrupiados? Até quando prevalecerá este capitalismo sujo? Até
quando você continuará bebendo Coca-cola, comendo McDonald’s e mexendo no
Facebook, ou seja, levando a vida que eles [os donos do poder] querem que você
leve?
[GALEANO,
Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Editora Paz e Terra, Rio de
Janeiro, 201 páginas].
Sobre o capitalismo: "Se, por um lado, é admirável o seu potencial de criação de riqueza material, de progresso tecnológico e de bem-estar das nações, de outra parte, é assustador o seu inerente desprezo pelas condições particulares da existência dos povos e pelos conteúdos da vida" (Luis Gonzaga de Mello Belluzzo).
ResponderExcluirCaracterísticas desta nova faceta do neocolonialismo: é cyber, ou seja, utiliza-se da internet, e tem por objetivo único a ampliação dos mercados de consumo dos dominadores e a busca de matéria-prima a baixo custo.