Era domingo. Mas não era um domingo qualquer – a família
estava de luto.
Morrera a mãe do melhor amigo, precocemente. Recebi a notícia
no sábado à tarde e tratei logo de pegar um ônibus para comparecer ao enterro.
Era o mínimo que eu podia fazer. Não sabia ao certo como agir nem o que falar,
mas sabia que a presença era importante. Ver o amigo, abraçá-lo, escutá-lo,
tudo isto fazia parte do meu papel.
Penso que, agora, depois da morte, haverá um momento de
profunda dificuldade – mudança de casa, a sensação de não ter mais a pessoa
amada, solidão, dúvidas e até medo – entretanto, conhecendo você do jeito que
eu conheço e sabendo da sua capacidade emocional e artística, tenho certeza que
este momento não se prolongará nem um minuto a mais do que o necessário. A
saudade, é claro, esta é pra vida toda, mas aí já é um debate que está acima de
nós.
Enfim, gostaria de retificar que você é bem mais do que um
amigo, é um irmão, e que, mesmo à distância, estamos juntos.
Haverá um mistério?
[...]
Parece que o rumo das coisas não se importa,
a natureza, ou o que seja, mata e não se importa.
A natureza não é minha mãe.
Minha mãe se importava (p.86).
[BENSUSAN,
Hilan. Comunista. In: (2000). Editora Komedi. Campinas, 2005, 110 páginas].
"Existem mais ou menos 6 bilhões de pessoas neste mundo/ Nenhuma delas é mais a minha mãe" (Hilan Bensusan).
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