quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Civilização é Foda!

Aluguei uma casa. Quando estava saindo dela dei de cara, pela primeira vez, com o meu novo vizinho, Seu Butzke. Formalmente nos cumprimentamos e logo em seguida vieram as perguntas, as únicas perguntas que um senhor de 70 anos, conservador, moralista, casado desde a juventude com a mesma mulher, poderia me fazer: de onde você é? onde você trabalha? quanto vai pagar de aluguel?
A civilização é foda, não há meio-termo pra ela, ou você se adapta ou cai fora. É um pouco o que Darwin queria dizer com ‘seleção natural’. Mas eu não reclamo, já entendi isso. Talvez não tenha como ser de outra maneira, talvez seja preciso representar o papel.
Vocês já assistiram “O Show de Truman – O Show da Vida”?, é dessa representação que eu falo:
- Bom dia, e se a gente não se ver, boa tarde e boa noite.
É engraçado, mas esta é a mentalidade da nossa época. No trabalho escuto falar de metas, meu colega me pergunta “porque você não compra um carro?”, se um vizinho pinta a casa ou troca a calçada, o outro pinta a casa e troca a calçada também, afinal de contas, estamos competindo.
Pra sair disto só pegando um livro, alugando um filme, escrevendo um blog ou, como costumava fazer Rui Barbosa, apreciando a vida não-industrial: “A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, tudo assim, desde os astros, no céu, até os micróbios no sangue” (p.73-74). 

“Os apetites humanos, no entanto, conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem” (p.74).
- Bom dia, e se a gente não se ver, boa tarde e boa noite.

[BARBOSA, Rui. In: Oração aos Moços. Editora Ouro. Rio de Janeiro, 1949, com adaptações].

Um comentário:

  1. "Ainda vos poderei salvar a vós mesmos. Não é sonho, meus amigos" (Rui Barbosa).

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