Existe por detrás do sujeito comum um tipo
psicológico personificado por um mito, isto é, por uma ‘pessoa’ ou ideia que
adquiriu força e poder ao longo do tempo e que, por essa força e poder, é imitada em termos comportamentais.
Na civilização pós-industrial (dias de hoje)
destacam-se alguns mitos sociais, a saber, o do artista autodestrutivo, o do
conto de fadas, o do sonho americano, entre outros. Cada um destes mitos
justifica-se, como tal, através de um conjunto de mecanismos – filmes, livros,
ídolos, mídia – e se consolidou por meio de um processo histórico.
O mito do artista autodestrutivo, para
exemplificar, é uma ideia criada há mais de 200 anos, no alvorecer da Revolução
Industrial, sobre como deveriam viver os sonhadores. Para os poetas românticos
do século XIX (Rimbaud, Byron), o artista deveria ser, necessariamente, um
rebelde e marginal, guiado apenas por suas emoções, insubmisso às regras
sociais que regem a vida dos mortais comuns. Foi assim que viveram os pintores da
chamada belle époque (Modigliani,
Picasso) e os roqueiros da segunda metade do século XX (Keith Richards, Kurt
Cobain, Jimi Hendrix). Na análise de uma das mais influentes críticas culturais
norte-americanas, Camile Paglia, “estes artistas buscavam inspiração em sua
dor e caos interno e tinham medo da banalidade da vida cotidiana, por isso
afastavam a realidade, se entorpecendo com álcool e drogas. Era como se
empurrassem, a si mesmos, rumo ao despenhadeiro, para finalmente encontrar a
benção da extinção da consciência”.
O mito do conto de fadas, por sua vez, encontra
fundamentos até mesmo na Bíblia, com a história do pastor de ovelhas que
durante sete anos esperou pela sua amada, a filha mais nova de Labão. Passa
pelo cinema hollywoodiano (Ghost, Bonequinha de Luxo), pela figura da mulher
idealizada (Marilyn Monroe, Sophia Loren), pela mitologia grega (Afrodite),
enfim, percorre toda cultura da humanidade, encontrando seu ponto alto na
famosa peça shakespeariana, Romeu e Julieta.
O mito do sonho americano é o mais recente.
Representa a ideia de conforto, de uma vida materialmente perfeita; passa pela
aquisição de um carro, por uma carreira bem sucedida, por uma família de
respeito, por um casamento com alguém de nome e de importância perante a
sociedade, pelo poder e pelo status. Este mito encontra suas origens nos anos
1920 norte-americanos, época de uma prosperidade material sem precedentes: “em
1919, havia, nos EUA, 6.771.000 automóveis particulares. Em 1929, nada menos de
23.121.000” (Breno
Silveira).
Parafraseando J. M. Keynes, uma das mentes mais
brilhantes do século XX, "muitas pessoas práticas, que se julgam
isentas de qualquer influência intelectual, são, frequentemente, escravas das
idéias de alguém já falecido a muito tempo".
Quantos menininhos não sonham em ser Messi ou Pelé? quantos jovens românticos não desejariam ser Mário Quintana ou Manuel Bandeira? que político não admira Gandhi ou Lula? qual cristão não reverência Jesus? que terrorista não se inspiraria em Bin Laden? A Teoria dos Mitos Sociais é válida, nosso comportamento é influenciado pelos grandes acontecimentos, pelos grandes personagens... para o bem ou para o mal.
ResponderExcluirO mito do bom cristão: representa a ideia de um sujeito ‘correto’, ‘fiel’ ao casamento, à família, aos costumes, ao trabalho e, sobretudo, a Deus. O bom cristão, no fundo, é aquele cara que dá duro o dia inteiro, ganha o suficiente ou um pouquinho mais, não reclama, está de acordo com tudo, é submisso no emprego e pensa que as coisas são como devem ser: “Assim como o pássaro nasceu para o voo, o homem nasceu para o trabalho” (JÓ, 5:7).
ResponderExcluirQual o seu mito?
ResponderExcluirO mito é o nada que é tudo.
ResponderExcluirO mesmo sol que abre os céus,
É um mito brilhante e mudo.
(Fernando Pessoa)
A cor do mundo mudou.
ExcluirA montanha já não toca o céu; as nuvens
já não se amontoam como frutos; na água
já não transparece um seixo. O corpo dum homem
curva-se pensativo onde um deus respirava.
Virá o dia em que o jovem deus será um homem...
(Cesare Pavese)