A extraordinária
habilidade do poeta Mário Quintana oferece diferentes pontos de vista ao leitor. O sujeito é capaz de ler o poema Emergência
e achá-lo triste, mas, em outra oportunidade, pode parecer-lho realista ou proposital. Os textos clássicos possuem esta capacidade – de se renovarem diante dos olhos de quem os aprecia. Contudo, não é apenas o poema que se modifica, a alma do sujeito também. E é desta troca ou interação que nasce a poesia sentida: aquela que extrapola o texto escrito, confundindo-se com a vida da pessoa humana. Mário Quintana tinha conhecimento de causa, por isto é que não datava os seus poemas; preferia que eles fossem se encontrando sem hora marcada, com qualquer um que os procurasse, “um mistério encanando com outro mistério”.
habilidade do poeta Mário Quintana oferece diferentes pontos de vista ao leitor. O sujeito é capaz de ler o poema Emergência
e achá-lo triste, mas, em outra oportunidade, pode parecer-lho realista ou proposital. Os textos clássicos possuem esta capacidade – de se renovarem diante dos olhos de quem os aprecia. Contudo, não é apenas o poema que se modifica, a alma do sujeito também. E é desta troca ou interação que nasce a poesia sentida: aquela que extrapola o texto escrito, confundindo-se com a vida da pessoa humana. Mário Quintana tinha conhecimento de causa, por isto é que não datava os seus poemas; preferia que eles fossem se encontrando sem hora marcada, com qualquer um que os procurasse, “um mistério encanando com outro mistério”.
Pensar a
poesia de Mário Quintana é um esforço sem fim. Senti-la então, é mais difícil
ainda. Ela aparece como que por encanto e, como que por encanto, desaparece. Os
versos deste alegretense me fazem lembrar do Marcelo, o antigo namorado da
minha mãe. Ele era metido à escritor... Certa vez estávamos sentados no sofá
assistindo televisão quando o Mário Quintana apareceu num comercial e, junto
com a sua imagem, a sua voz e o Poeminha do Contra: “Todos estes que aí estão/
Atravancando o meu caminho,/ Eles passarão./ Eu passarinho!”. O texto é de um
caráter forte e, apesar de ser pequeno em palavras, é grande em conteúdo. Perguntei
ao Marcelo qual era mensagem do poema:
- Humildade.
- Como
assim?
- “Eles
passarão”, no sentido de querer ser mais (maior) do que os outros; “Eu
passarinho”, no sentido de ser pequeno, humilde, igual a todo mundo.
Achei fantástica
a interpretação, pois era original. Eu jamais compreendera o texto desta forma
e, até então, o Poeminha do Contra possuía, pra mim, um único sentido. “Passarão”,
de acordo com a minha lógica, indicava o verbo “passar” no futuro do presente e “passarinho”, no
jogo de palavras, representava a liberdade e a eternidade do poeta, em
oposição àqueles que deixariam de existir assim que o corpo morresse.
Como se
vê, além de permitir uma segunda leitura, o texto clássico possui uma segunda
interpretação. Não existe uma lógica na poesia, mas duas, três, que se
multiplicam na medida em que se tornam sentimentos.
Emergência (Mário Quintana)
ResponderExcluirQuem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.