“Na última quarta-feira
(16/12/10) a Câmara aprovou um projeto polêmico: o aumento do salário do
presidente da República, de seu vice, dos ministros, deputados federais e
senadores, de 16 para 27 mil. A votação ocorreu logo após os deputados
aprovarem um requerimento para que este projeto tivesse urgência e, assim,
saltasse a fila das votações da Casa”, conforme noticiaram os meios de
comunicação. Se os parlamentares se mobilizassem com a mesma ligeireza para
resolver assuntos de interesse do povo, certamente que viveríamos no melhor dos
mundos possíveis. Mas isso não acontece. A classe política brasileira só se
mobiliza de verdade para resolver assuntos de seu interesse, quer dizer,
pessoais.
É óbvio que toda essa
imoralidade também esta relacionada ao descaso do povo, que assiste a tudo de
braços cruzados. Se o assunto for futebol ou novela, o povo debate e até se
empolga, agora, em se tratando de política, ninguém sabe de nada. No fundo, uma
coisa se alimenta da outra.
Mas não é do povo que eu
quero falar aqui. É de político sem-vergonha mesmo. O gari, o servente e a
auxiliar de cozinha talvez não cheirem tão bem quanto um deputado ou senador,
principalmente porque os primeiros trabalham (suam), e os segundos não. Os
primeiros trabalham, e trabalham pesado, enquanto os segundos roubam. Os
primeiros ganham pra sobreviver, os segundos, pra desfrutar. Os primeiros
cheiram a lixo, a suor e a cebola, respectivamente, enquanto os deputados e
senadores exalam perfume francês caríssimo. Os primeiros se vestem com trapos,
os segundos, com ternos italianos de alta costura. A política oprime o povo, ao
invés de servi-lo – a democracia brasileira funciona mal.
É engraçado isso. Um
trabalhador ganhar apenas 2% do que ganha um ladrão, é muito engraçado. E o
pior de tudo é que essa exploração descarada é legítima, pois é assegurada e
garantida pela constituição do nosso país. Quando questionado sobre o reajuste,
o senador Eduardo Suplicy, do PT, disse que “o aumento era condizente com a
importância do cargo”. Eu concordo com ele. Mas e os professores e os garçons e
os caixas de supermercado e os motoristas e os carteiros não merecem ganhar um
salário condizente com a importância do cargo? Obviamente que sim. Então porque
só os deputados federais, os senadores, os ministros, o presidente e o
vice-presidente têm esse direito assegurado na prática? Não deveriam eles
primeiro servir ao povo para depois se servirem?
A indignação toma conta
da gente, mas ela não se torna protesto efetivo. A nossa revolta se torna
alcoolismo, depressão, vaidade... qualquer coisa, menos política. O povo deve
expressar a sua revolta de uma forma mais coerente. Não é com a compra de um
par de sapatos novos ou com mais um copo de cachaça que o Brasil deixará de ser
o que é. Eu sei que é horrível ouvir o discurso de um político, porque ele
mente o tempo inteiro; mas, não é por eles que a gente deve participar, é por
nós mesmos. Afinal, político é uma coisa e política é outra.
"Como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditaram nele" (Charles Gaulle).
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