domingo, 10 de agosto de 2014

Como as coisas funcionam

Há, por detrás da realidade aparente, milhares de outras realidades. Aristóteles, que viveu de 384 a 322 a. C., dizia “a Terra é o centro do Universo, e o Sol e todo o resto se movem em torno dela”. Entretanto, um grego chamado Aristarco, que viveu uns cem anos depois de Aristóteles, dizia o contrário “o Sol está no centro do Universo e tudo, inclusive a Terra, se move em torno dele”. Mas não foi levado a sério. Afinal, está na Bíblia que “os céus” e “os luzeiros” foram criados em função da Terra ou, de outra maneira, para que o homem pudesse se adaptar à vida terrena. O que contraria não apenas a Física, para a qual o planeta em que vivemos não é mais do que um grão de areia no Universo, como também as ideias de Aristarco, que, mesmo sem possuir telescópio ou nave espacial, concebera a hipótese heliocêntrica, atualmente a mais aceita para o sistema solar.
O poder é capaz de manipular os fatos; o que chamamos de verdade pode ser uma mentira; a História que conhecemos, foi inventada, ou melhor, poderia ter sido outra. Para ficar mais claro: uma lenda egípcia, de cinco mil anos atrás, diz que o Deus Hórus nasceu de uma virgem no dia 25 de dezembro e que voltou da morte após três dias: isso te soa familiar?
Nelson Rodrigues era mestre no sentido da revelação dos fatos ocultos. Em um de seus contos, intitulado “O Justo”, uma menina de 15 anos aparece grávida de repente; na casa onde viviam sete homens – três genros, três filhos e o patriarca – todos eram suspeitos; o engraçado é que antes de entregar o canalha, Nelson Rodrigues deu uma pista: “Seu Clementino, com efeito, não bebia, não fumava, não jogava; era sóbrio e contido até nos prazeres da mesa. Comia pouco, comia apenas para não morrer de fome. No dia de suas bodas de prata, surpreendeu os convidados ao dizer, com sua voz densa:
- Só conheço uma mulher: a minha! E nunca a traí!”(p.78).
Era mentira: assim funcionam as coisas.

[RODRIGUES, Nelson. A vida como ela é... In: O Justo. Editora Nova Fronteira, RJ, 2012]

2 comentários:

  1. De fato, a História Ofical não é necessariamente a melhor versão.

    Como diriam os renascentistas: "Um mundo para ser conhecido e não só admirado".

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  2. Bela postagem. Excelentes referências. Isso me fez pensar sobre uma série de fatos que ocorrem nos dias de hoje, dentre os mais atuais eu destaco a morte do candidato a presidência Eduardo Campos. Fui extremamente questionado e criticado quando levantei uma hipótese: "Será que Eduardo Campos morreu mesmo? Será que não é uma estratégia política? Cruel, mas uma estratégia?" Bem... Cruel ou não, morto ou não, uma coisa é certa, várias pessoas vão se beneficiar desta triste tragédia onde se perdeu, não um candidato, mas uma vida de forma estúpida. Nem tudo é o que parece e as coisas funcionam nem sempre do modo como de fato pensamos. Belo texto. Abração AMIGO-IRMÃO!

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